Completaram-se ontem seis meses sobre o início da “operação militar especial” de Putin na Ucrânia. Seis meses em que muito mudou no mundo em muitos e diversos planos, seis meses que entreabriram frinchas surpreendentes através das quais vai romper toda uma outra ordem económica e política internacional.
Mas enquanto a maior parte dos motores aquecem, com algumas preparações antecipatórias a já sucederem em lados mais previdentes e estratégicos (o que não parece ser o caso da Europa enquanto tal, a despeito de certas decisões de alguns Estados-membros orientadas por racionalidades e impactos eminentemente nacionais), teremos ainda de continuar a assistir quase impavidamente aos desmandos, atrocidades e crimes humanitários de uma guerra sem sentido ― onde, to say the least, um terço da população diretamente atingida já foi obrigada a deslocar-se para fora das suas zonas de habitação, com a Rússia a enfrentar uma resistência inesperada e corajosa mas, ainda assim, a já ter ocupado 20% do território ucraniano ― e de acrescidamente sofrer os fortes efeitos imediatos por ela causados nas nossas próprias vidas (irremediáveis ― vejam-se abaixo as centrais dimensões da inflação e dos preços do gás ―, por mais war fatigue que possa sobrevir).
Neste quadro de incerteza radical, sobra ainda uma Rússia de que conhecemos e sabemos pouco, bem menos do que eventualmente admitimos durante mais de um século ― sete décadas dominadas pela lógica soviética e mais de trinta subsequentes à sua implosão. Sendo de registar positivamente o regresso pelo interesse na cultura russa, aos seus mais variados níveis e nas suas expressões estruturalmente mais relevantes para a compreensão daquele povo e do seu carma histórico, ele não nos trará mais do que interpretações intelectualmente estimulantes sobre o voraz e trágico fluir da realidade. No entretanto, e enquanto há quem prefira concentrar-se pela positiva nas pressões sobre a economia russa (oligarcas e população em geral) decorrentes das severas sanções que sobre ela se abate(ra)m, ademais associadas às limitações que alguns detetam no terreno militar do lado russo (quer em termos de estado de espírito e capacidade de mobilização, quer também por via de fornecimentos ocidentais de material de guerra crescentemente sofisticado), outros preferem especular em torno dos possíveis fins do ditador; só que estes nem sempre colocam em cima da mesa o real medo que todos silenciosamente sentimos em relação a possíveis atos tresloucados por parte de Putin e seus capangas...
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