(Vai por aí um clamor, produto da silly season que afinal sempre existe, que tem por foco declarações um pouco desbocadas da ministra da Agricultura Maria do Céu Antunes, com zanga de comadres entre a CAP e a Ministra. Não sendo propriamente um cronista de silly season e tendo o meu colega de blogue já comentado o caso, vou focar-me no falso problema que as tais declarações desbocadas provocaram. Regista-se que não há governo, sobretudo do PS, que escape à tradição de um Ministro se passar, inventando sabe-se lá o quê para aparecer nas notícias, ainda um dia destes alguém estudará que síndrome atacará alguns Ministros perante o microfone ou o caderno de notas de um jornalista ávido de preencher o seu papel numa calmaria de agosto...)
Começo por dizer que,
embora a escolha de Maria do Céu Antunes para ministra da Agricultura e sua
recondução no segundo governo de António Costa, tenham criado nos media a
ideia de um erro de casting, tenho a melhor das impressões da
personagem, não obviamente como Ministra da Agricultura, mas antes como
autarca, Presidente da Câmara Municipal de Abrantes durante nove anos e da CIM
do Médio Tejo e sobretudo pela sua atividade no domínio do desenvolvimento
local, em que por terras do Médio Tejo dinamizou e ajudou a robustecer a Tagus,
Associação para o Desenvolvimento Integrado do Ribatejo interior (Abrantes,
Constância e Sardoal). A proximidade a António Costa e a Nélson de Souza fizeram o resto.
Claro que a mundividência do Ribatejo interior e do Médio Tejo como um todo não prepara nem capacita para o exercício de condução do Ministério da Agricultura, sobretudo se entendermos a função como representativa de todos os modelos de produção agrícola do Continente e não como apenas ao serviço da mais do que competitiva agricultura do Ribatejo e da Lezíria.
Aliás, tenho para mim que a própria existência de um Ministério da Agricultura na orgânica do Governo é ela própria, isso sim, um completo erro de casting e um nonsense. Uma grande parte da agricultura competitiva perdeu qualquer elo de ligação ao território, abrange atividades. capitalisticamente organizadas, que funcionam como empresas e como tal devem ser reguladas, pertencendo por isso ao domínio e regulação do Ministério da Economia. A outra agricultura, dificilmente competitiva e com forte ligação ao território e à sua diversidade justificaria um ministério do Desenvolvimento Rural ou do Desenvolvimento Local. Maria do Céu Antunes teria competências para este último Ministério, nunca para o Ministério da Agricultura tal qual está organizado.
Os Governos PS e uma grande parte dos Governos PSD têm perfilhado ministros que apresentam com a diversidade da agricultura portuguesa uma fraquíssima empatia e identificação, podendo quando muito ser conotados com a agricultura abaixo do Mondego, mais seguramente com a agricultura do Tejo para baixo. Neste contexto, todo o arrufo com a CAP deve ser desvalorizado. A grande maioria dos Ministros que têm exercido funções “pagam tributo” às conceções da CAP. Não é por mal, mas sobretudo pela sua total incapacidade de compreender a pequena agricultura predominante no Norte e no Centro.
Por isso, quando se pretende responder à questão “O que é que a “Antunes” tem de diferente de outros Ministros que a antecederam?”, a resposta é não tem nada de diferente. A mundividência de cada um é o que é e não podemos inventar novas mundividências para conseguir uma Ministra mais abrangente e capaz de entender a diversidade da agricultura portuguesa.
Por isso, a querela com a CAP é uma zanga de comadres, que se esgotará rapidamente com a “rentrée” política.
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