quarta-feira, 17 de agosto de 2022

E O MOTOR ALEMÃO? GRIPOU?

                                                                             


(Ainda há dias comentava que o pequeno brilharete do crescimento económico português previsto para 2022 vinha acompanhado da crónica anunciada, já há longo tempo, de aumento do défice externo, em regra observado nos períodos em que o crescimento económico português parece querer arrancar de novo. O mais surpreendente é que esse agravamento do défice externo, balança comercial e balança corrente, tem também uma expressão massiva na zona euro. Apetece, por isso, perguntar o que é que terá acontecido ao motor alemão tão viciado nos seus excedentes externos?)

O aspeto do gráfico acima reproduzido é desolador do ponto de vista do agravamento das contas externas da zona euro, atingindo em termos de balança comercial valores nunca vistos no período a que o gráfico se refere, ao passo que em termos de balança corrente a situação não atingiu ainda valores tão baixos como os observados em 2008.

Os analistas mais atentos têm perguntado onde estará a força compensatória das exportações alemãs, tal como aconteceu em muitas alturas no passado.

Pressentem-se no ar os sérios problemas que afetam o tal motor alemão, dos quais a questão energética não é a única dimensão a ter em conta. O problema é que a economia alemã saiu bastante penalizada da disrupção observada nas cadeias de valor globais, dada a dependência da sua indústria em relação a consumos intermédios provenientes do continente asiático, situação que a indústria alemã procurava compensar com a procura desses mercados para escoar a produção alemã.

Abre-se aqui um campo de problemas (quem substitui o poder do motor de crescimento alemão?), mas também um campo de oportunidades, que vão desde a morte anunciada do eterno surplus externo alemão até à emergência de novas forças de industrialização em busca de novas fontes de complexificação de outras economias. Em determinados nichos de mercado isso pode favorecer alguns padrões de complexificação da economia portuguesa que estão a ser observados por força da incorporação de mais conhecimento na produção de exportação nacional. É nesse âmbito que as primeiras Agências Mobilizadoras de Inovação a receber apoios do PRR se inscrevem.

Claro que todo o processo de revisão de forças no âmbito da economia europeia pode ser passageiro e passado algum tempo de jogo ganha a Alemanha. Mas, cá para mim, se a disrupção das cadeias de valor mundiais veio para ficar, dificilmente a economia europeia poderá permanecer a mesma e a adaptação da economia alemã será longa, muito longa, a começar pelo seu paradigma energético.

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