quarta-feira, 10 de agosto de 2022

A AMIZADE DESPACHADA OU UM DESPACHO PARA QUÊ?



É impressionantemente chocante a propensão desta gente para a incessante prática de diabruras asneirentas e/ou de trapalhadas desnecessárias e desprovidas de sentido! Propensão que funciona, as mais das vezes, como uma quase provocação aos cidadãos, seja aos mais conscientes (que esfregam os olhos de assombro e pasmo) seja aos mais desligados e populistas (que sempre aproveitam a oportunidade para procurarem repor argumentos diminuidores da democracia). Deste modo, e pelos vistos, talvez tenhamos de convir que o poder não apenas é afrodisíaco mas antes será também crescentemente inibidor do cumprimento de mínimos em termos de racionalidade e bom senso...

 

Já alguém tinha realizado a falta que fazia a presença de alguém que, no seio do ministério das Finanças, ajudasse a desenhar políticas públicas e a monitorizar a sua execução e a perceção e impacto que estão a ter junto das partes interessadas? Não, é claro que não, mas terá sido precisamente esse o tipo de vantagem comparada que decorreu da chegada de uma luminária ao comando dos nossos destinos (financeiros e outros, ao que parece).

 

Já alguém tinha reparado que Sérgio Figueiredo, um licenciado em Economia e profissional competente na área jornalística (diretor do “Diário Económico” e do “Jornal de Negócios” entre 1996 e 2007 e diretor de informação da TVI entre 2015 e 2020), além de titular de uma passagem pela Fundação EDP, tinha uma particular preparação para prestar serviços de consultoria estratégica especializada ao Ministério das Finanças? Não, é claro que não, mas terá sido precisamente esse o tipo de criatividade distintiva on job que levou António Costa a escolher Medina para o exercício de liderar as nossas Finanças após uma derrota vexatória nas eleições para o município de Lisboa.

 

E alguém equacionou o melindre associado ao facto de em tempos Sérgio ter contratado Fernando, na altura presidente da câmara de Lisboa, como comentador pago pela TVI? Não, é claro que não, mas talvez tenha sido precisamente esse (a capacidade de reconhecer e retribuir favores) um tipo de critério que presidiu à nomeação da personagem que comanda as nossas cobranças e execuções fiscais e similares.

 

E alguém avaliou a transparência necessária a um procedimento com estas e demais caraterísticas (ajuste direto, “considerando a especificidade das necessidades de consultoria em causa”; duração de contrato e remuneração, dois anos e equiparada e limitada ao vencimento base do ministro”, isto é, 4.767 euros; etc.) determinado em despacho pelo ministro das Finanças de Portugal? Não, é claro que não, mas talvez tenha sido precisamente esse tipo de escolhas um elemento necessário a que, como sustenta João Paulo Batalha, seja permitido “deliberadamente esconder esse currículo porque, se [o jornalista] estivesse a ser contratado para assessor do Gabinete do Ministro, o currículo teria de ser publicado e seria interessante perceber como é que o Governo justificaria [a opção por um tal consultor estratégico]”.

 

No meio de todo este embuste e fogo de artifício, eu ainda me considero suficientemente crente para admitir que não estaremos perante uma manifestação gratuita de abuso de poder (absolutamente maioritário, no caso). Julgo, ao invés, que vamos sendo confrontados com uma pura e simples exibição de miscelâneas várias e cruzadas de saloiice e falta de jeito. Dito isto, fica a pergunta que se impõe: o que mais irão eles ainda inventar do alto das suas “mentes brilhantes”?

Sem comentários:

Enviar um comentário