segunda-feira, 22 de agosto de 2022

NORMALIZAÇÃO NA GRÉCIA

A Grécia já foi um dos grandes protagonistas deste nosso espaço, sobretudo ao tempo da crise das dívidas soberanas que quase levou o país a abandonar o Euro (o “Grexit”, recordam-se, com Tsipras e Varoufakis ao leme na fase mais aguda e a respetiva zanga subsequente?) mas também sempre que aqui referenciamos indicadores de menos bom cumprimento no contexto económico-social europeu.

 

Pois a notícia ― boa, desta vez ― é a de que, doze anos depois, “a Grécia está de volta à normalidade europeia e deixa de constituir uma exceção na zona do euro” (citando o ministro das Finanças, Christos Staikouras, acima na imagem). Trata-se da saída, formalmente ocorrida no Sábado último, do chamado estatuto de “vigilância reforçada” em que o país se encontrava desde 2018 na sequência de todo um estrito controlo das suas políticas económicas iniciado em 2010 que incluiu três resgates totalizando mais de 260 mil milhões de euros. Ou seja, trata-se do fim de um monitoramento próximo e excecional da economia grega pelas instituições da UE, colocando doravante o país sob o generalizado mecanismo de vigilância do "Semestre Europeu" (inspeção convencional das autoridades europeias a cada seis meses) ― nos termos do primeiro-ministro Kyriakos Mitsotakis, encerra-se “um ciclo de 12 anos que trouxe preocupação aos cidadãos”, “um momento difícil” que “causou estagnação à economia e divisão na sociedade”, o que atribui (como convém) aos “grandes sacrifícios da sociedade grega, à política económica do governo e, em geral, aos seus esforços de reforma”.

 

Palavras de circunstância à parte, a verdade é que a Grécia parece estar mesmo de volta e até já evidenciar alguns sinais positivamente objetivos da mudança em curso (a “The Economist” elogiou, algo exageradamente, o facto ao escrever estarmos perante um Europe’s unlikely model student), como aqui já tive ocasião de apontar (não escamoteando o especial mérito de Mitsotakis e da sua agenda determinada e reformadora que também tem Harvard na respetiva base) e procurarei elucidar mais em detalhe em próxima oportunidade. Até porque as legislativas se aproximam e importará observar como relativamente a elas se posicionarão as principais forças em presença (do Syriza de Tsipras, em aparente dificuldade para fazer vingar um discurso consequente perante a obra do governo instalado, aos social-democratas, ansiosos por um regresso condigno à cena política, e à extrema-direita, em notória perda mas apostada em manifestações que lhe conferem hipóteses de alguma expressão social) e o que assim poderá delas resultar no sentido de uma continuada estabilização económico-social ou do regresso de novos fatores de instabilidade.


(Peter Schrank, https://www.economist.com)

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