quarta-feira, 31 de agosto de 2022

SOLIDÃO, NA SAÚDE E NA DOENÇA

 

Estritamente para memória futura, eis a abrir este post os excertos das capas dos jornais diários nacionais de hoje relativos à demissão (?) de Marta Temido (MT). Não quero aqui ir até ao injusto ponto de subscrever o apontamento de mau gosto que circula nas redes sociais e segundo o qual “a Ministra da Saúde já se tinha demitido há dois anos mas foi para a lista de espera”; mesmo julgando saber que as tentativas de demissão por parte de MT já tinham sido várias (após uma primeira fase governativa de “glória” pandémica e súbita irrupção partidária – quem não recorda a imagem acima do Congresso em que se tornou militante e logo foi guindada ao estatuto de forte candidata à liderança?), sempre contrariadas pelo primeiro-ministro por razões táticas muito próprias – o que a cronista do “Público” Maria João Marques explicita da seguinte e crua maneira: “A prioridade de Marta Temido nunca foi a melhoria dos serviços de saúde, no que despendeu pouca energia, mas o afrontamento aos grupos privados de saúde, onde, sim, se lhe notava particular prazer ministerial. Em boa verdade, foi para isso que foi escolhida por António Costa. Em contexto de geringonça, o primeiro-ministro queria alguém que mostrasse a sanha anti negócio da saúde que é tão cara a BE e PCP.” E, mais adiante: “Uma ministra como Marta Temido foi sintoma da preferência de Costa por popularidade e paleio ideológico face ao bom senso e à boa gestão.” Para assim prosseguir: “No fulcro dos problemas do SNS que levaram à demissão de Marta Temido, está António Costa. Talentoso e anticlímax, tem destruído o élan de uma maioria absoluta em meia dúzia de meses. Foi Costa que manteve para novo governo uma ministra ideologicamente inflexível e (compreensivelmente) esgotada pela gestão da pandemia. Foi Costa que repôs as 35 horas semanais na administração pública, algo que inevitavelmente aumentaria custos ou diminuiria qualidade dos serviços. Foi Costa que apostou na via estatista de Temido para a Saúde ao invés de recrutar um reformista. É Costa que mantém uma burocracia rígida para o país, levando o próprio governo a preferir pagar balúrdios a médicos tarefeiros, com os quais não tem vínculos, a negociar melhorias de condições para os médicos do SNS que cairiam de imediato nos direitos adquiridos, essa vaca sagrada intocável que nem o PS quer alimentar.” Em linha, pode ainda ler-se no editorial de Manuel Carvalho que: “O ocaso de Marta Temido, a ministra que, ‘desta vez’, António Costa teve de deixar cair, não prenuncia nada de bom. O Governo nada fez para a salvar. Citar uma ‘gota de água’ para explicar a sua saída é como assobiar para as árvores – em causa está uma morte que, afinal, não resultou de problemas nos serviços. A crise do SNS é responsabilidade do Governo.”

 

Agora, como se ouve naquele irritante reclame radiofónico, a questão está no senhor que se segue ao som de “Próximo”, tudo indicando que, se António Lacerda Sales não puser a sua eficaz máquina preventiva em ação, o dito provirá do Porto e chamar-se-á Fernando ou Manuel; leia-se: ou Fernando Araújo (atualmente em pleno desenvolvimento de um excelente trabalho de organização e gestão à frente do Hospital de S. João) ou Manuel Pizarro (um homem de infatigáveis movimentações e incursões partidárias e adjacentes que tende de momento a circular predominantemente pelos corredores do Parlamento Europeu em Bruxelas). Claro que, conhecendo-se as metodologias de abordagem que caraterizam Costa, ele pode sempre acabar por procurar surpreender e assim se situar num extremo, como o de inventar alguém vindo de um qualquer sopro repentinamente chegado aos seus ouvidos (o já tantas vezes fez ou tentou fazer em várias áreas da governação), ou no extremo contrário, como o de recuperar a hipótese de convencer alguém capaz porque maduro e dotado de conhecimento e experiência prática – aceitam-se apostas mas, dada a complexa natureza dos players, recuso-me terminantemente a daqui aventar qualquer tipo de odds...

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