Há dois ditadores que se vêm afirmando como especialmente relevantes do lado ocidental da atual conjuntura europeia, ambos contudo bastante condescendentes e até próximos em relação ao regime que Putin vem impondo do lado de lá da antiga “cortina de guerra”.
Os dois vivem com problemas económicos internos relativamente complexos e sobretudo impactantes sobre o bem-estar dos respetivos cidadãos, como bem evidenciam os dois gráficos abaixo (através da perda de valor do forint húngaro e da enormidade da inflação turca). Aspeto que é para eles, de momento, uma preocupação de pequena monta.
Mas se ambos pretendem apresentar-se como agindo igualmente com uma marcada e assustadora arrogância nas suas prestações públicas internacionais, o que ressalta realmente é uma diferença substantiva: Orbán, ao mesmo tempo que não cessa de bajular os russos (a dependência energética também oblige), tenta mostrar-se em permanente desencontro e provocação relativamente às autoridades europeias embora sempre acabe a procurar soluções de compromisso que lhe permitam continuar a aceder aos vitais fundos estruturais que lhe estão destinados no quadro da União; Erdoğan, por seu lado, joga mais forte e mais estrategicamente (há por ali um toque imperialista incontornável e objetivos geopolíticos claros quanto ao modo de o interpretar na Região e no plano global), usando magistralmente o bluff como arma ao seu serviço (vimo-lo na crise dos refugiados com Merkel e vimo-lo depois em sucessivas ocasiões, como por exemplo no seu protagonismo na guerra da Síria ou na sua recente intermediação na crise dos cereais, sem esquecer as suas exigências na questão da adesão sueco-finlandesa à NATO em que conseguiu os seus intentos de dobrar a política permissiva desses países em matéria de legalização de cidadãos curdos).
Dentro de alguns anos, quando se escrever a História que vai ficar para valer, um irá aparecer em pé de página como um breve incidente de percurso antiliberal e populista num país em perda (embora já tendo desempenhado papeis importantes no quadro europeu), enquanto o outro surgirá descrito como alguém que contou (seguramente mal de múltiplos pontos de vista) e deixou marcas não desprezíveis em relação à herança otomana que decidiu assumir como sua em toda a plenitude e com todas as consequências (esperemos que sem excessos de implicações nefastas para o mundo). Um ditador de pacotilha e outro de corpo inteiro, mesmo que não se possa deixar de considerar quanto verdadeiramente distingue um “homem mau”, despido de princípios e algo implacável de um carniceiro sem nome e sem escrúpulos.
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