sábado, 27 de agosto de 2022

JAIME DEL CASTILLO

                                                                                

 

(Um começo de dia muito triste com a notícia ao pequeno-almoço da morte do meu Amigo Jaime del Castillo, link aqui, presidente da INFYDE – BILBAO, acionista representativo da Quaternaire Portugal, Professor Catedrático de Economia Aplicada da Universidade do País Vasco, protagonista de muitas conversas sobre o modelo regional vasco, a problemática dos sistemas regionais de inovação da qual era um especialista europeu e a sobrevivência de empresas de consultadoria com a dimensão da Quaternaire e da INFYDE. Um acidente vascular cerebral apanhou-o traiçoeiramente na sua Santander natal, onde costumava passar férias regularmente, cidade com que se identificava perfeitamente, sobretudo pelo apego à vida e a tudo que ela nos traz de aliciante que aquela Cidade nos proporciona. Sem a presença regular do Jaime que nos visitava com alguma frequência para acompanhar grandes decisões no rumo da Quaternaire, sinto que fico menos eu, dada a familiaridade com que tratávamos os temas foco das nossas conversas. É provável que a vida não me proporcione um regresso a Santander ou a terras de Bilbao, sede da INFYDE – Información y Desarollo. Mas se algum dia essa mesma vida ainda me proporcionar essa oportunidade será seguramente com uma sensação de vazio e de orfandade que aquelas Cidades me acolherão).

A minha ligação à personalidade inconfundível que o Jaime del Castillo apresentava vem de longa data, ainda antes da sua INFYDE se ter tornado um acionista representativo da QP. O Jaime era próximo e tinha uma amizade de longa data com membros destacados do projeto inicial da Quaternaire em França (sobretudo o também inconfundível Jacques Gagnier), muito antes do grupo se ter decomposto e perdido o pé face à incompatibilidade manifesta existente entre a aristocracia artesanal da consultadoria que a Quaternaire France representava e as grandes multinacionais que invadiram o mercado francês de então. Para além disso, na sua passagem por Grenoble (pós-doutoramento) o Jaime cruzara-se com o Professor Mário Rui Silva, meu colega de longa data, o que conjugado com a amizade cruzada com o Rui Azevedo e a Elisa Babo, ajudou a forjar uma longa e estável familiaridade, reforçada com o seu papel de acionista representativo da Quaternaire.

Tínhamos um tema de investigação comum, a problemática dos sistemas regionais de inovação e das estratégias de especialização regional inteligente, da qual era um especialista e perito da Comissão Europeia, temas sobre os quais ele trabalhou aprofundadamente em regiões como as Baleares, a Comunidade de Madrid, Castilla y León e em países sobretudo como o Chile.

Com almoços e jantares a acompanhar a reflexão, discutimos muitas vezes a internacionalização de empresas como as nossas, a INFYDE bem mais afortunada do que a QP com uma presença saliente na América Latina tirando partido do esforço constante do governo de Espanha em desbravar essa cooperação. Refletimos também sobre a degradação dos preços nos mercados de consultadoria regional em Espanha e em Portugal, fortemente penalizadora da maneira de estar das duas empresas, caracterizado pelo trabalho à medida e não padronizado, sempre com a realidade do País Vasco como tema de referência.

Nativo de Santander, o Jaime conhecia a gastronomia cantábrica e vasca como ninguém e lembro-me de uma participação que tive nos cursos de verão da Universidade Mendez Pelayo em que ele foi cicerone gastronómico e de cujo jantar ainda recordo o sabor inconfundível dos pimentos rellenos.

É com uma profunda sensação de vazio que este agosto caminha para o seu fim. À família do Jaime, sua mulher e filhos que nunca cheguei a conhecer, as minhas homenagens modestas mas sinceras. E sobretudo à gente que trabalha afincadamente na INFYDE, na pessoa da Belén Barrotea, um abraço de coragem, de muita coragem para levar a bom porto o barco que o Jaime del Castillo pilotou durante longo tempo.

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