sábado, 13 de agosto de 2022

ANTUNES COM BOAS COSTAS

(Luis Grañena, https://elpais.com)

 

Por muita lata de que António Costa esteja municiado, até dela dispor ao ponto de estar em condições de a dar e vender, começo a ter sérias dificuldades em realizar até que limites conseguirá ele suportar as gafes e os sucessivos vícios comportamentais que emanam dos governantes que designa. Porque o facto é que me custa realmente a crer que um homem inteligente e perspicaz, além de um político experiente e de alguns princípios (a despeito de “mata-borrão”), consiga conviver com tal sucessão de trapalhices, inabilidades e incompetências sem manifestações de uma vergonha que decorram da sua responsabilidade objetiva e última pelo que quase quotidianamente por aí vai sucedendo de lamentável (antes as substituindo até por trocadilhos e jogos de palavras de efeito nulo e duvidosa graça).


Vem isto a propósito da última dessas incompetências, sim porque a incompetência política não deixa de ser incompetência também. Os factos: a ministra da Agricultura, Maria do Céu (que entrou Albuquerque e depois evoluiu para Antunes), quando instada pelos jornalistas a responder às críticas do secretário-geral da CAP (que considerou “inexistente” a resposta do Governo para mitigar o impacto da seca no setor da produção e alimentação animal), respondeu com a seguinte, sugestiva e esplendorosa reflexão: “É melhor perguntar porque é que durante a campanha eleitoral a própria CAP aconselhou os eleitores a não votar no Partido Socialista”.



A CAP reagiu como lhe cabia: “Apelamos ao escrutínio do verdadeiro sentido destas declarações. Não cederemos um milímetro a este ‘bullying’ político e continuaremos a ser a voz de defesa dos agricultores sempre e em todas as ocasiões.” E em seguida: “São declarações que nos parecem ser pouco saudáveis no Estado de direito democrático e que têm que ser explicadas.” Para concluir: “A ministra não paga aos agricultores e adia decisões por retaliação política à CAP?” E as oposições também mostraram publicamente a sua discordância e inaceitabilidade ― debalde, como o maioritário absolutismo necessariamente determina...

 

Mas a reação da entidade visada, procurando uma reposição do essencial em termos de normalidade democrática, não deveria nunca obstar, muito antes pelo contrário, a que um primeiro-ministro com autoridade e sentido de responsabilidade tivesse vindo a terreiro para com firmeza levar as coisas para o seu devido lugar ― ao não o fazer, Costa expôs-se a pronúncias incómodas como a do diretor do “Público” (“sobram razões para se temer que a arrogância, a prepotência e a inimputabilidade entrem nas rotinas da ação do Governo”) e assim vai descendo mais uns furos na consideração de que talvez ainda goze junto de muitos portugueses de bem.


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