(Os Portugueses são uns sentimentalões, pertenço ao grupo e creio que muito boas almas derramaram a sua lágrima com a homenagem do espalha-brasas Pedro Ribeiro na Rádio Comercial ao Fernando Chalana, que faleceu esta madrugada no sofrimento de uma doença que lhe cerceou a vida muito cedo. O Chalana representa aquele mundo do futebol ainda não sofisticado e ainda não impregnado de SAD’s, agentes e outras figuras e aquela camisola 10 do Fernando fazia milagres, à esquerda e à direita, para desmontar autocarros, antijogo, defesas implacáveis, como gazua preparada para desbloquear e compensar a falta de inspiração dos seus colegas em direção ao golo.)
O Chalana é aquela figura que pela memória que representava nos mantinha ainda ligados ao futebol apesar da sua degradação. É um excelente exemplo do talento desprotegido, que deu tudo ao futebol, ao SLB e à Seleção, mesmo tendo em conta a sua curta passagem pelo estrangeiro, se a memória não me atraiçoa pelo Bordeaux, onde era conhecido pelo Chalanix, dada a semelhança de bigode com a figura do Astérix. Transferência que haveria de financiar a conclusão do Terceiro Anel, tamanha que foi a sua magnitude.
O Chalana era o arquétipo do futebol da nossa infância e adolescência, o modelo e inspiração dos dribles que aplicávamos, driblado pela vida e pelos que dele se aproveitaram sem lhe assegurar a proteção que merecia. Um extremo que furava defesas mas que também marcava, como eram nesse tempo os extremos, apontados como setas ao objetivo do jogo, o golo.
Há personalidades que quando desaparecem fazem com que sintamos uma parte da nossa vida a ir-se também, tamanha foi a identificação com a sua imagem. Quem não gosta de futebol pode achar estas comparações despropositadas. Mas quem dele gosta e quem está focado nele descobrir dimensões e aspetos que não chegam às primeiras páginas, sabe que há personagens insubstituíveis no campo.
O Fernando Chalana era um desses personagens.
Sem comentários:
Enviar um comentário