quarta-feira, 17 de agosto de 2022

DIZ A TAXA DE INVESTIMENTO...

Há dias, um texto do “Financial Times” era acompanhado pelo gráfico acima que, referenciando-se à última década da Zona Euro e tendo por base o seu investimento público líquido (em percentagem do PIB), surgia intitulado como revelador de “uma década de não construção para o futuro”.

 

Recordei a propósito o que tantas vezes ouvi desde a minha já longínqua passagem estudantil por Paris, ou seja, que a verdadeira indicação quanto à construção do futuro provém da significância das taxas de investimento (formação bruta de capital fixo em percentagem do PIB, assim se privilegiando preferencialmente o peso e a evolução da criação de riqueza que decorre dos níveis de investimento registados pelas economias, designadamente empresariais); fui então calcular o que daí se poderia inferir.

 

Considerei para o efeito o período 1995/2021 e nele introduzi uma periodização correspondente aos tempos de preparação da chegada do Euro, aos anos deste século anteriores às grandes manifestações da crise das dívidas soberanas e os anos posteriores (de recuperação e crise covídica), tendo resultado o gráfico abaixo que julgo bastante elucidativo e do qual sublinho três pontos principais: (i) a posição muito destacada da Chéquia, aliás muito em linha com a sua igual distinção em termos de complexidade económica; (ii) as posições relevantes de um número significativo de países da Europa Oriental e Central, para além da Irlanda; (iii) as posições medíocres dos países da Europa do Sul (algo melhor a Espanha, piores a Grécia e a Itália) e da Alemanha (a qual mostra quanto o “motor europeu” tem vindo a viver dos rendimentos, leia-se do acumulado).

 

Quanto a Portugal, a observação do seu comportamento em termos de dinâmica de investimento total (sendo que a do investimento público não é também digna de menção positiva, muito pelo contrário como bem se sabe) não deixa grande margem para dúvidas: situação genérica abaixo da média da União e nos lugares mais baixos do respetivo ranking, tendência fortemente decrescente ao longo daqueles três períodos considerados e forte evidência do enorme desgaste e da delapidação dos anos troikistas (convém não esquecer...) e de uma recuperação nestes últimos anos de governação socialista que deixa a desejar por manifestamente incipiente. Em suma, e como aqui temos apontado, o País apresenta-se continuadamente em notório adiamento, sempre parecendo à espera de um qualquer burro de capa preta (que também pode ser qualquer outra coisa e de qualquer outra cor) que seguramente não chegará.

(construção própria a partir de https://ec.europa.eu/eurostat/data/database)

(construção própria a partir de https://ec.europa.eu/eurostat/data/database)

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