quarta-feira, 3 de agosto de 2022

O INCOMPREENSÍVEL REGRESSO DE VASCO GONÇALVES

(excerto de Henrique Monteiro, http://henricartoon.blogs.sapo.pt)

 

De tudo quanto se lhe conhece, diria que Carlos Moedas é um político que parece primar pela decência e pela generosidade. No tocante ao essencial dos seus desempenhos públicos, a sua prestação enquanto comissário europeu lá foi fazendo esquecer o seu excessivo colaboracionismo troikista, assim como foi digna de louvor a sua opção por abandonar a administração da Gulbenkian para arriscar candidatar-se à presidência do município de Lisboa (o que logrou conseguir, embora mais por demérito do incumbente do que por especial mérito próprio). Desde que lidera a Câmara, Moedas não tem deixado de revelar um estilo que raia o pueril (num artigo desta semana, Sebastião Bugalho refere-se a ele ter de “evitar que a sua simpatia se converta em indefinição política”), ainda que vá tendo por vezes laivos de alguma agressividade nas suas intervenções partidárias e comicieiras. Acontece que na semana passada foi ao limite do tolerável ao considerar que “será sempre uma honra e um gosto continuar a homenagear o general Vasco Gonçalves” (!), deixando a maioria dos seus apoiantes à beira de um ataque de nervos após acrescentar ainda que “não sei se será uma estátua, se um busto, mas vamos trabalhar nesse sentido”; neste quadro, qualquer desmentido que pronuncie só soará a falso, importando essencialmente que Moedas não se deixe continuar a enredar em tal sucessão de incidentes, os quais, sendo claramente menores no seu real alcance, lhe colarão uma imagem incontornavelmente incompatível com a dimensão das ambições políticas que poderá querer protagonizar.

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