Assistir à pretensa investidura de Alberto Feijóo, que se desenrola entre ontem e hoje no Congresso dos Deputados em Madrid, é penoso de todos os pontos de vista. Em primeiro lugar, e desde logo, para o próprio que ali se presta a uma indisfarçável encenação e a sofre acompanhada de vários requintes de malvadez; além de ali estar a ser quase unanimemente apoiado por uma Direita que, como tudo indica, rapidamente lhe irá voltar as costas (sejam os extremistas e oportunistas do Vox, sejam os seus companheiros do PP que vierem manifestar a sua preferência pelas contas do poder face às da palavra e da lealdade). Em segundo lugar, para o que sobra de um PSOE com princípios firmes em relação ao que de essencial deve ser a unidade da sociedade espanhola nos dias que correm, com os seus “senadores” (Felipe González e Alfonso Guerra) a virem afirmá-lo alto e bom som na praça pública e muitos militantes a exprimirem o seu desacordo e desânimo em relação à abordagem por Sánchez da questão da amnistia. Em terceiro lugar, para o nacionalismo e o independentismo, cujas causas eminentemente justas mereceriam mais e melhor reflexão quanto ao modo de as trazer novamente à tona para a devida afirmação no seio de uma sociedade moderna, europeia e complexa como é a espanhola. Em quarto lugar, para os objetivos maiores de salvaguardar a democracia e rechaçar os populismos que crescentemente pululam à nossa volta, porque me parece inquestionável que, sem prejuízo da legitimidade do registo verificado nas urnas, a maioria silenciosa dos cidadãos do país vizinho olha desgostadamente para o processo em presença e tenderia a preferir-lhe a normalidade constitucional previamente prevalecente. Não vai ser fácil juntar os cacos de tudo isto, pelo que vaticino enorme conflitualidade e dias marcadamente complicados no Reino de Espanha.
quarta-feira, 27 de setembro de 2023
A ESPANHA AGUENTA?
(Ricardo Martínez, http://www.elmundo.es)
(Agustin Sciammarella, http://elpais.com)
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