domingo, 10 de setembro de 2023

DO INVESTIMENTO DIRETO (COMPLEMENTOS)

(Elaboração própria a partir de https://bpstat.bportugal.pt)

(Elaboração própria a partir de https://bpstat.bportugal.pt

Admitia eu no último post que as evoluções recentes do IDE tendem a apontar para algum desvio relativo do lado produtivo para o lado especulativo. A combinação dos dois gráficos acima suporta razoavelmente essa tese, quer ao mostrar o significativo aumento do IDE no setor imobiliário (que passou, designadamente, de 96,6 mil milhões de euros no primeiro semestre de 2013 e de 274 mil milhões de euros no segundo semestre de 2020 para um inédito valor superior a 500 mil no segundo semestre de 2021 e depois para valores sustentadamente acima deste e até duplos nos segundos semestre de 2022 e 2023) quer ao evidenciar uma tendência crescente para o aumento do peso relativo do imobiliário no IDE nos últimos anos (mesmo que os 94% do último trimestre disponível não deixem de constituir uma situação que terá de ser encarada como excecional). De notar as inequívocas médias trimestrais de investimento estrangeiro em imóveis durante três grandes subperíodos passíveis de consideração: 133,8 mil milhões de euros entre 2008 e o início de 2013 (período altamente influenciado pela crise internacional e pela ação da Troika), 379,9 mil milhões entre 2013 e meados de 2020 e 667,9 mil milhões nos doze últimos semestres (são aqui indesmentíveis os efeitos da explosão turística e do acréscimo de atratividade do País em termos imobiliários, também por via do lastro deixado pelas políticas de Vistos Gold e de incentivos fiscais a residentes não habituais).

 

Uma nota final para acrescentar uma referência julgada útil à questão da origem geográfica do IDE em Portugal. Evitando os aprofundamentos a que a sua complexidade obrigaria, designadamente pela consideração das lógicas associadas à gestão e estratégia dos grupos económicos internacionais que comandam o dito investimento e usufruem dos seus rendimentos, justifica-se um sublinhado centrado na distinção entre os principais países investidores finais e os países que constituem contraparte imediata dos respetivos fluxos (intermediários). No caso português (gráficos abaixo), são os Países Baixos e o Luxemburgo os países cuja proveniência de investimento estatisticamente registada está maioritariamente associada a origens em outros países, especialmente a China, os EUA e a França (isto para além do fenómeno de round tripping em que a deteção de investimento com origem e destino em Portugal resulta de entidades intermediárias residentes em países externos, com notório destaque para alguns mais fiscalmente flexíveis como os Países Baixos e o Luxemburgo); entre as várias razões explicativas destes factos, não poderemos deixar de incluir as de ordem setorial e especulativa ou de gestão e planeamento fiscal agressivos por parte de países e empresas.


Sem comentários:

Enviar um comentário