segunda-feira, 18 de setembro de 2023

QUESTÕES DE HORÁRIOS

 


(O início do ano escolar suscita várias questões dignas de ser convocadas a este espaço de reflexão, no quadro geral da cada vez mais visível perda de domínio por parte do ministro João Costa, presentemente incapaz de alertar para a dimensão estrutural dos problemas e, simultaneamente, mitigá-los com intervenções a curto prazo que anunciem uma trajetória de correção dos mesmos. Algumas das suas declarações causam dó e mostram uma perda de domínio da situação de modo cada vez mais visível, independentemente de concordarmos ou não com a agressividade sindical. A questão que gostaria de trazer hoje à vossa reflexão prende-se com os horários muito matutinos de algumas escolas. Um dos meus netos começa o ofício às oito da manhã e a neta mais velha às oito e quinze. Pergunto-me se será isto sensato e devidamente contextualizado na sociedade portuguesa.

Dirão alguns que deitar e levantar cedo dá saúde e faz crescer e que por isso começar as atividades às oito ou oito e quinze da manhã será estimulante e que estará em linha com os padrões internacionais.

Permitam-me que discorde e quem o faz é um decidido madrugador que normalmente salta da cama antes das sete da manhã para se atirar ao trabalho, reservando apenas um ou dois dias da semana para uma preguiça.

Os tempos das coisas, e os horários escolares entram nessa categoria, não são padrões abstratos que se apliquem independentemente dos contextos em que a sociedade se organiza. As famílias portuguesas não jantam por volta das dezoito ou dezanove horas, como o fazem algumas sociedades do Norte, e as atividades complementares na formação dos jovens são cada vez mais numerosas, diversificadas e consumidoras de tempo. E, para além disso, a pluriatividade e o combate pelo rendimento mais confortável levam muitas famílias, país e mães, a uma luta diária insana, que se traduz em horas tardias de jantar e prolongamento pela noite dentro de tarefas caseiras. Nos casos civicamente menos avançados é a mulher que aguenta com essa sobrecarga. Claro que em famílias abastadas, em que existem empregadas para cuidar dos meninos, estes poderão seguir horários caseiros que lhes permitam horas de sono suficientes para enfrentarem a Escolas frescos como alfaces acabadas de colher. Em famílias medianas e normais, a organização do trabalho profissional e doméstico dificilmente permitirá que os jovens jantem a horas que lhes permitam ir para a cama a tempo de desfrutarem do tal sono reparador, para já não falar em momentos de acompanhamento pelos pais do trabalho e desempenho escolares dos filhos.

Porquê então em insistir em horários que estarão de acordo com uma sociedade de outro tipo, com outros tempos sociais e profissionais, designadamente com horários de trabalho dos pais que terminam pelas dezassete ou pelas dezoito e não com aquela irritante prática dos portugueses que gostam ou são obrigados a compensar a sua ineficiência ou das organizações em que trabalham com sobre trabalho e prolongamento anómalo dos seus horários?

Alguém poderá responder-me a esta questão?

 

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