segunda-feira, 25 de setembro de 2023

AS ELEIÇÕES NA MADEIRA

 


(O Observador chamou-lhe criativamente “gerinponcha”. O PSD Madeira não conseguiu a desejada maioria absoluta e logo nas primeiras projeções da noite Alberto João Jardim aproveitou para deixar a sua inevitável bicada, afirmando que lhe parecia um resultado curto. Mas fruto das surpresas do método de Hondt, essa não maioria absoluta acontece com uma vitória laranja arrasadora em todos os concelhos da Região Autónoma e também na esmagadora maioria das freguesias. De qualquer modo, a elevada abstenção deveria preocupar os madeirenses, não parecendo positivo que a Madeira caminhe para uma espécie de “laranjoquistão”. E, ainda mais paradoxalmente a vitória territorialmente arrasadora do PSD Madeira coexistirá com um Parlamento regional com uma vasta e multifacetada representação política, sugerindo que as suas sessões terão de ser melhor acompanhadas pelo comentário político. Não deixa também de ser surpreendente que o partido regional Juntos pelo Povo seja a terceira força política, negando a Ventura esse estatuto para o Chega. Gostaria de me concentrar neste post na derrocada socialista e na fragilidade da sua candidatura, não ignorando a adversidade do contexto, estimo que agravada pela recomposição da população madeirense por força do regresso forçado ou espontâneo de população que estava no estrangeiro.)

 

A rábula de Miguel Albuquerque, “demito-me ou não me demito” se não tiver maioria absoluta não chegou a constituir um facto político, já que a possibilidade de uma maioria parlamentar estável para a governação nunca esteve em causa, mesmo tendo em conta a necessidade da linha vermelha em relação ao Chega. Diria mesmo que se o PSD nacional pretendia retirar ilações mais profundas para o seu relançamento nacional então a não maioria absoluta seria sempre mais vantajosa, pois permitiria ensaiar uma negociação com a Iniciativa Liberal e/ou com o PAN para a maioria parlamentar estável, que tende a favorecer a anulação dos efeitos negativos que a aproximação ao Chega nos Açores efetivamente provocou.

Compreendo bem, porque conheço em alguma medida a Região, que é muito difícil contruir uma oposição sólida, sobretudo se ela rejeitar o populismo do Chega e o localismo regional do Juntos pelo Povo. Mas o que me parece preocupante é a perda de relevância progressiva que as candidaturas do PS têm vindo a apresentar, desde o brilharete, depois aniquilado por uma gestão autárquica desastrosa, que a coligação de esquerda que ganhou eleições locais no Funchal prometeu. Bastou o PSD encontrar um candidato de peso como Pedro Calado para desfazer imediatamente a ideia que poderia haver extensão regional dos resultados funchalenses.

A irrelevância das equipas propostas pelo PS regional anuncia o risco de uma longa hibernação e o fel verrinoso de Ana Gomes foi ontem esclarecedor quando considerou patética a intervenção do candidato derrotado, quando ele invocou que o PS é a única alternativa credível ao poderio laranja por ter uma votação superior ao dobro do Juntos pelo Povo e Chega juntos, além de ter encontrado uma vitória simbólica na perda da maioria absoluta pelos vencedores da noite. De facto, é preocupante a perda de relevância em matéria de ideias para a Região em que o PS regional está mergulhado, suspeitando que figuras socialistas com alguma relevância intelectual se têm afastado, não sei se descrentes pela falta de apoio do PS nacional.

Sabemos que não é tarefa fácil encontrar espaço de alternativa política não populista numa Região que tende para um “laranjaquistão”, sobretudo quando a interrupção do poder de Alberto João Jardim foi concretizada e a sempre difícil sucessão no PSD não foi aproveitada. E o PS corre o risco de entrar num círculo vicioso de decrescimento, não conseguindo atrair quadros e outras figuras para uma luta política que é muito marcada e que deixa marcas.

Talvez o PS nacional deva prestar mais atenção a este risco.

 

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