(O jornalista galego Fernando Galego, da VOZ DE GALICIA, é particularmente perspicaz, o que não me surpreende pois acompanho os seus escritos já há muito tempo, na análise das previsões de Verão 2023 da Comissão Europeia. Na medida em que a perspicácia da sua análise vem ao encontro e converge com algumas das reflexões que tenho aqui produzido sobre o modo como o Banco Central Europeu e, por arrastamento, a União Europeia, estão a tratar o problema da inflação, utilizo a sua reflexão como tema deste post. Surpreendentemente, trata-se de matéria a que a comunicação social em Portugal não prestou qualquer atenção, na senda de uma indigência galopante que nos deveria preocupar, mais do que as picardias do Alecrim e Manjerona entre Costa e Marcelo. É verdade que as previsões da Comissão desenvolvem pormenores apenas para os grandes, Alemanha, Espanha, França, Itália, Países Baixos e Polónia, ficando Portugal limitado a uma pequena referência pública do Comissário Gentiloni ao problema da habitação, mas o tema justifica atenção e debate.)
A análise de Salgado é especialmente sagaz quando compara as previsões de crescimento e inflação para a Alemanha e para Espanha:
País |
2023 |
2024 |
Alemanha Crescimento do PIB (%) Taxa de inflação (%) |
- 0,4 6,4 |
1,1 2,8 |
Espanha Crescimento do PIB (%) Taxa de inflação (%) |
2,2 3,6 |
1,9 2,9 |
O que estes números surpreendentemente nos revelam é uma relação às avessas entre crescimento e inflação. Na Alemanha, para uma situação de quebra ligeira do produto a inflação está acima do valor observado no conjunto do euro (20). Em Espanha, que apresenta a taxa mais elevada de crescimento no grupo dos BIG, acomoda por sua vez uma das mais baixas taxas de inflação. Daí termos falado de inflação e crescimento às avessas. Se quisermos sermos um pouco especulativos, o paradoxo hispano-alemão sugere a partir da Espanha que o crescimento mais forte, que pode ser visto como uma aproximação ao famigerado sobre aquecimento da economia, parece não implicar uma inflação mais elevada. Pelo contrário, a estagnação alemã não evita a elevada a taxa de inflação.
Em que ficamos? Qual destas situações reflete melhor a política do BCE? Ou, no seu conjunto, o paradoxo hispano-alemão sugere que algo vai mal no Reino do BCE?
Será que estamos à míngua de capacidade crítica da abordagem do BCE, ignorando que a diversidade de situações no interior da zona Euro é em parte incompatível com uma receita (terapia) aplicada por igual ao espaço da União? Está a abordagem do BCE suficientemente articulada via Comissão Europeia com as políticas a seguir por cada Estado membro? Será que esta questão terá sido discutida no Conselho de Estado?
Por cá, o jornalismo económico nem tugiu nem mugiu, a caminho da indigência assumida.
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