terça-feira, 12 de setembro de 2023

PEDINDO DESCULPA POR TER DE VIR À NOTA DE CENTENO...

(a partir de André Carrilho, https://www.rtp.pt/spamcartoon) 

Li com a máxima atenção e interesse os posts aqui colocados pelo meu parceiro António Figueiredo (AF) sobre aquilo a que começou por chamar “A Análise de Centeno” e a que depois veio chamar “A Nota de Centeno”, isto quando pretendeu associar-se a “O Elogio da Temperança” de Alberto Castro (AC) no “Dinheiro Vivo” (artigo que obviamente também li). Pois será talvez defeito meu, mas o facto é que, lida a “Encruzilhada de Políticas” do Governador (ninguém se preocupou especialmente em tentar perceber o porquê deste texto inédito assinado individualmente mas com recurso à utilização de informação do BdP e com reporte assumido à função que ocupa), me senti algo perdido sobre o ponto a que pretendia chegar o nosso AF ou, melhor dito, sobre a razoabilidade de centrar o seu argumento interpretativo na ideia literalmente afirmada de que Centeno terá visado manifestamente uma defesa da ação do Governo mais do que deixar-lhe críticas ou avisos mais ou menos premonitórios. Porque, como é explicitamente dito por AF, em AC “encontro alguém que em meu entender terá compreendido bem que a nota do Governador é especialmente elogiosa para a ação do Governo no período de 2015 ao surto inflacionista pós-pandémico”; citando o próprio: “O texto que Mário Centeno publicou torna o irritante otimismo de António Costa uma brincadeira de crianças. Afinal, está tudo bem ou quase. Mais a sério: é uma análise sobretudo macroeconómica que esquece os detalhes da microeconomia das instituições.”

 

Ora, a questão está precisamente aí: ou seja, Centeno foi ministro das Finanças desde novembro 2015 (e até junho de 2020) e tal dado factual torna claro que aquilo a que ele essencialmente se dedicou na sua “Nota” foi a uma espécie de “louva-a-eu” enquanto autor pioneiro de uma obra inigualável para que escolhe deterministicamente os limites da periodização, aliás dificilmente justificáveis em termos de rigor de análise económica e em vários dos detalhes tidos por fundamentadores (o que não quer dizer que não tenha sido brilhante à época a sua invenção manipuladora das cativações, apesar dos resultados perversos que também emergiram). Dito isto, também se constata que Centeno consagra por acréscimo algum espaço ao presente e ao futuro próximo, sublinhando designadamente a importância potenciadora do investimento decorrente da estabilidade financeira e da previsibilidade dos modelos de negócios, aqui sim talvez deixando campo para leituras e avisos de entrelinhas ao cuidado de Medina.

 

Por fim e num outro plano, o elogio da temperança é bem visto por AC quando refere que “o texto mostra, implicitamente, a importância de alguns consensos e da persistência da estratégia, bem como o tempo que os resultados demoram a aparecer” e indica a Educação como o melhor exemplo (adiante junta-lhe ainda a passagem governativa de Mariano Gago). No entanto, aqui não deteto novamente boas razões para o autoelogio de Centeno, ao que AC ainda vem acrescentar que “a maioria absoluta do PS poderia ser uma oportunidade única para que se sedimentassem algumas políticas de alcance estratégico”. E, a culminar tudo isto, sobra a questão de um entendimento sério sobre o real problema económico português, encarado na “Nota” como sendo o de abordar a atual “encruzilhada de políticas” que enfrenta e não o de se focar numa dimensão estrutural cujo alcance resolutivo se menoriza a ponto de a considerar como tendencialmente resolvida ― afirmar, como é feito no preâmbulo, que “o país mudou estruturalmente” é matéria que arruma com qualquer um...

Sem comentários:

Enviar um comentário