sexta-feira, 1 de setembro de 2023

ARRIBAS, FALÉSIAS E ALMOÇO COM OS PÉS NA ÁGUA

 

                                            (Praia dos Caneiros - Carvoeiro)

(Agosto já foi e antes do regresso ao trabalho a 4 de setembro nada melhor do que uns dias finais de férias no Algarve, já praticamente sem canícula exagerada, para acompanhar um familiar próximo a um torneiro de ténis de veteranos, no Carvoeiro, no magnífico clube local. Nova oportunidade para acompanhar de perto o estado de conservação e proteção de arribas e falésias, neste caso numa zona do Algarve conhecida pela beleza das suas pequenas praias, misturadas com grutas misteriosas e pela qualidade dos seus restaurantes de praia para os quais é necessário arte e engenho para encontrar uma reserva. E uma última curiosidade no velho e histórico Ferragudo, um portinho de pesca ainda bastante ativo, mesmo em frente à intragável marina de Portimão.

A questão das arribas e falésias algarvias representa para mim uma das manifestações mais evidentes da sustentabilidade no turismo e nem sempre populações e governantes estão cientes desse difícil equilíbrio.

É possível confirmar que foi realizado um enorme esforço de investimento de sinalização e de interpretação dos perigos que algumas das arribas representam e que praticamente não existe uma arriba em perigo que não esteja sinalizada. Mas se numa praia (rainha) da Falésia não existe problema de espaço e é sempre possível encontrar formas de ocupação da praia a uma larga distância das zonas em perigo, já nesta zona do Carvoeiro, digamos entre Albufeira e Portimão, o perigo das derrocadas coexiste com praias minúsculas e em que a zona mais protegida da praia está ocupada com os apoios de praia, alguns repito de excelente qualidade. Se em fins de agosto a pressão existente já não tem comparação possível com a alta de julho e agosto, mesmo assim encontrar um espaço nestas praias recortadas e de grande beleza cénica exige arte e chegar cedo, sob pena de assentar arrais já próximo da falésia, sob risco e com probabilidade de não respeitar exigências legais.

Mas se consultarmos todas as brochuras mais mediáticas deste Algarve, é fácil concluir que estas praias rendilhadas constituem a principal atração e fator de inimitabilidade. Mas é de uma inimitabilidade sob riscos que temos de falar, pois aquela sucessão cénica de praias de encantar tem a acompanhá-la os perigos de derrocada devidamente sinalizados e interpretados, é um facto, mas sujeitas a que um inverno mais rigoroso, ou uma excentricidade qualquer em termos de severidade climática ao longo do ano, continue a destruir arribas e a tornar as praias idílicas em espaços cada vez mais recônditos.

Por isso, em termos pedagógicos e estratégicos, sustento que a questão das arribas é no Algarve um dos principais temas da sustentabilidade turística. Não tenho informação ou competência técnica que me permita avaliar se é ou não possível suster o processo de degradação e fragilização destas falésias imponentes e desafiadoras. Do ponto de vista da sensibilização, sinalização e interpretação penso que as autoridades regionais já avançaram bastante, mas isso é apenas o princípio de uma solução de sustentabilidade.


                                     (Bairro histórico de Ferragudo - Lagoa)

Sem arte e engenho para encontrar uma reserva de restaurante na praia dos Caneiros, rumámos ao velho centro histórico do bairro piscatório de Ferragudo, onde ainda se respira cultura e azáfama de pesca, não sei por quanto tempo. Encontrada já tarde a esplanada para o almoço, apercebemo-nos pouco tempo depois que em dia de maré grandiosa (em associação à Lua da noite) o canal do Arade, não encontrando no mar a saída salvadora, tende a subir as suas águas e a inundar lentamente as praças e ruas que o ladeiam. Assim, já em pleno almoço, toda a praça ficou com uns centímetros de água do canal, daí que um almoço com os pés na água tenha sido a minha primeira experiência na matéria. Num ritual surpreendente que, dizem-me, tem três edições ao longo do ano, janeiro, abril e agosto, quando o almoço terminou, a água tinha baixado, tudo tinha regressado ao normal.

E nestas coisas o marketing turístico é imbatível. Num pequeno palco na praça inundada, lia-se “Lagoa – Mergulhe à sua descoberta”. Ou melhor dizendo, almoce com os pés na água

 

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