sexta-feira, 29 de setembro de 2023

BIODIVERSIDADE, BIOSFERA E AS RESERVAS UNESCO EXISTENTES EM PORTUGAL

 


(Escrevo no regresso de Lisboa ao Porto, num Alfa penalizado por avaria no sistema de sinalização provocado por um simples roubo de cobre, depois de alguns dias de trabalho na capital, entre outras coisas para assistir ao seminário final de apresentação de resultados de um projeto de cooperação internacional gerido pela Quaternaire, financiado pelo EEGRANTS, com a Noruega e a Islândia em lugar de destaque. Como a minha participação no projeto se limitou a uma simples ação de formação sobre questões de governança, estou à vontade para me pronunciar sobre os resultados de um projeto que honra o EEGrants, a própria empresa e o empenho das 12 reservas da biosfera que Portugal apresenta neste momento. Um Ministro, Duarte Cordeiro, cada vez mais confiante e uma exceção num executivo frágil por dificuldades criadas a si próprio, e dois Secretários de Estado, Secretário de Estado do Planeamento, Eduardo Pinheiro, e da Internacionalização, Bernardo Ivo Cruz, ajudaram a validar a importância do evento que o Pavilhão do Conhecimento acolheu com a modernidade das suas instalações. Numa altura em que o tema da biodiversidade perde em termos de notoriedade para o das alterações climáticos, num todo que é indissociável, a relevância proporcionada às reservas da biosfera e à necessidade de consolidar o seu papel na Estratégia da Biodiversidade para Portugal, o evento talvez vá contribuir para uma melhor sinalização da experiência, confirmando-se também a boa sorte que temos tido em toda a cooperação que envolva países nórdicos e particularmente a Noruega. Por isso, além da feliz e oportunidade de rever os netos de Lisboa, cada vez mais crescidos e à procura do seu lugar no mundo, foi uma semana diferente, com quebras de rotina, num princípio de outono excecional que deixa as hordas de turistas em estado próximo do êxtase. Ontem, ao fim da tarde, quando fiz uma viagem de táxi para esquecer entre o Pavilhão do Conhecimento e a sempre aprazível Alcântara, com o tráfego num oito, deu mesmo assim para perceber o ambiente de festa junto ao rio, com cada vez mais turistas e locais a usufruírem daquela luz inconfundível do fim de tarde no mar da Palha, com pequenos veleiros a abrilhantar o horizonte, numa espécie de orgia anárquica de movimentações erráticas, aqui e ali disciplinadas por um cargueiro imponente que abandona o porto em direção ao mar alto.)

O tema UNESCO das reservas da bioesfera, no quadro da iniciativa mais ampla, o Homem e a Biosfera (obviamente que o nome está em revisão e percem as razões mais do que válidas para o fazer), é um tema que me interessa na medida em que se trata de uma tentativa de abandonar a lógica conservacionista tout court, para de uma vez por todas ir à procura de soluções harmónicas entre a conservação da biodiversidade e a valorização económica dos recursos, dando assim resposta aos anseios das populações que vivem nos territórios inseridos nas reservas constituídas. Nesta perspetiva, a própria designação de reserva parece hoje desajustada face à perspetiva não apenas conservacionista, como aliás a diretora nacional da aplicação do programa MaB (Man and the Biosphere) o sugeriu e a diretora da reserva norueguesa de Nordhordland também o salientou, sublinhando que na Noruega se fala não de reservas mas de áreas Unesco da biosfera.

Um seminário final de apresentação de resultados desperta sempre dificuldades de encontrar a carga adequada e nessa perspetiva talvez tenha sido uma densidade excessiva, tanto mais que as personagens científicas nacionais mais conhecidas do projeto, as Professoras Helena Freitas (Universidade de Coimbrfa) e Fernanda Rollo (Universidade Nova) são entusiastas e de verfbo fácil, não sendo propriamente as personagens mais adeptas de intervenções contidas.

A troca de impressões dos gestores técnicos das 12 reservas nacionais com o público presente sob a moderação da sempre sedutora e assertiva Luisa Schmidt (Instituto de Ciências Sociais de Lisboa) talvez tenha sido o momento mais empático do evento, só igualado pela presença dos dois jovens algarvios que ganharam as Olimpíadas da Biosfera, uma das atividades mais badaladas do projeto. A grande diversidade das 12 reservas constitui uma matéria bastante apelativa para a cooperação e para a discussão do tema da conciliação entre a conservação e a valorização de recursos. Quanto ao turismo predominou a posição de “sim mais alguns mas não muitos” e sobretudo a evidência de que as reservas buscam um perfil de turista que compreenda e valorize a biodiversidade.

Tratou-se do primeiro grande projeto europeu de grande dimensão que a Quaternaire geriu e animou. A Ana e a Elisa estão de parabéns por isso, sobretudo atendendo ao ambiente de grande reconhecimento evidenciado pela generalidade das reservas presentes. A palavra Felicidade de participação foi pronunciada várias vezes, sobretudo no tom mais emotivo do grande Senhor que é José Cassandra, Diretor da Reserva da Ilha do Príncipe em S. Tomé e da gestora da reserva de Nordhordland na Noruega. E quando é assim, temos “good value for Money” investido na cooperação, o que nem sempre acontece.

 

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