sexta-feira, 29 de setembro de 2023

WE ARE BACALHAU!


Seguindo o seu estranho modo de estar presidencial, o comentador Marcelo já veio pronunciar-se sobre a decisão governamental de hoje quanto à privatização da TAP a acontecer (defensiva e bastante politicamente correta, diga-se). Afirmando o óbvio à sua maneira, em termos político-pessoais (e pseudo-marketeiros) acompanhados de alguma intenção vingativa de continuar a ir fazendo as cócegas possíveis ao Governo: que vai analisar para verificar qualquer coisa de “interesse nacional” (sabe-se lá o quê ao certo), como pretende que decorra das suas fingidamente poderosas competências. Nada de verdadeiramente novo ou interessante, de facto.


O que há de realmente estranho em tudo isto é o cansaço que me causa (e a muitos dos meus concidadãos com que me vou deparando nas ruas e cafés por onde passo) ouvir o Presidente em comentários quase permanentes sobre tudo e o seu contrário (numa perseguição quase estonteante, mas completamente inconsequente, em relação à atividade de António Costa e seus ministros), ao que se somam ainda as suas tiradas infantis (o caso do decote ficará para a eternidade, mas os comentários futebolísticos ou económicos são igualmente impagáveis!) e as suas permanentes viagens (de que retira súmulas frequentemente delirantes, acrescentadas de desnecessárias “mentirolas” como aquela sobre uma falsa condecoração a Zelensky), e confrontá-lo com a persistência de resultados de sondagens que confortavelmente indicam um apoio à libertinagem pessoal de Marcelo e à sua fronda contra o primeiro-ministro.

 

Será apenas porque a malta, na sua generalidade, já não suporta a política dita séria (leia-se o Governo e as suas oscilantes manobras) e acaba por lhe preferir “marcelices” aparentemente mais inofensivas ou será também porque, quando perguntados, os respondentes optam por dizer o mais fácil e desvalorizativo, sem prejuízo de o considerarem algo que classificam no fundo entre o irrelevante, o ridículo e o senil? Como quer que seja, tudo na postura de Marcelo é de mau gosto e profundamente irritante (só ao alcance da suportabilidade de alguém com paciência de Jó, leia-se Costa), mas o pior de tudo são os efeitos nefastos que ela arrastará para a desconstrução de uma democracia tão frágil quanto a portuguesa.


(Cristina Sampaio, https://www.publico.pt)

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