São largamente inúteis os debates televisivos que estão a decorrer em antecipação à campanha eleitoral. Exceto para os muitos comentadores das cadeias televisivas, especialmente para os que se apresentam na SIC-N e na CNN (estações privada, e portanto livres nas suas opções editoriais, mas que higienicamente não deveriam abusar da parcialidade partidária ou amiguista), por serem eles quem verdadeiramente se vai transformando nos atores principais de uma autêntica farra que lhes alimenta o ego; eles divagam a toda a hora, e durante horas a fio, em torno dos seus umbigos e de opiniões muito pessoais e raramente objetivas, eles afirmam a mesma coisa e o seu contrário (entre si próprios e uns em relação aos outros), eles agarram-se a frequentes detalhes laterais ao que esteve em causa, eles fazem o alegado check das verdades e das mentiras afirmadas pelos políticos debatentes, eles dão-lhes notas com ar professoral (ainda que de modo completamente avulso e aleatório), eles escolhem, por sua livre recreação, quem são os vencedores e os vencidos...
Claro que há alguns comentadores cujas senioridade e modo de estar na profissão os leva a surgirem nos ecrãs para analisarem mesmo, num esforço de seriedade que merece o reconhecimento dos cidadãos que ainda conseguem consagrar parte do seu tempo a estas matérias. Mas a maioria deles ou tem agendas individuais de um qualquer tipo (ideológicas, partidárias, carreiristas, autocontemplativas) ou são meros opinantes inexperientes e até imberbes (e que às vezes também acumulam). Ao que acrescem também aqueles cuja prosápia apenas disfarça a presença de mentes não particularmente brilhantes.
Assim, o que resulta como essencial desta fastidiosa maratona de debates e seus apêndices acabam por ser a evidência de uma autêntica feira de vaidades e uma multiplicação de afirmações inconsequentes ou sem sentido, um quadro em que importa muito pouco a efetiva substância dos candidatos e suas propostas (quando essa substância possa ressaltar, o que aliás não é fácil em debates limitados a quinze minutos por pessoa, moderados por jornalistas mortos por se verem livres daquilo e frequentemente atarantados/impotentes perante interrupções, nem sempre recíprocas, dos protagonistas). O modelo é manifestamente mau, pois, já que não habilita a que alguém possa chegar ao esclarecimento que pretenda; e torna-se ainda pior por potenciar a perversidade de que uma franja razoável de autointitulados comentadores saia deste período de papo bem cheio.
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