(A noite eleitoral começou com uma sondagem à boca das urnas da RTP e Universidade Católica que anunciava intervalos muito esperançosos para uma maioria absoluta da AD açoriana. Começo por sublinhar que nenhuma outra sondagem se perfilou, o que pode bem significar o estado lamentável de situação financeira de grande parte da comunicação social em Portugal. Devo também referir que os intervalos iniciais não me impressionaram e que bem cedo comecei a intuir que a AD ganharia sem maioria absoluta e com reduzido crescimento face ao somatório de PSD, CDS e PPM em 2020, que o Chega confirmaria o seu dinamismo de crescimento (que tesourinhos açorianos!) e que o PS ficaria a braços com uma muito incómoda posição de extrapolação para as eleições de 10 de março. Atrevo-me mesmo a dizer que, muito provavelmente nas hostes de Pedro Nuno Santos, alguém terá pensado que, a perder, teria sido preferível que a AD açoriana tivesse ganho com maioria absoluta. Foi assim que no Princípio da Incerteza uma Alexandra Leitão claramente incomodada veio com a ideia de que mais uma vez ficou demonstrado que a direita democrática, isto é, sem o Chega, não é capaz de gerar uma maioria de governação estável. Acertadamente, Carlos Andrade retorquiu que essa evidência é extensiva ao PS. Também ele começa a dar sinais de que não é capaz de gerar essa maioria estável. É sobre este tópico que elaboro a minha reflexão pós-eleitoral a pensar obviamente no 10 de março.)
No meu penúltimo post, dedicado a um confronto Madeira-Açores do ponto de vista dos seus momentos políticos, registei a ideia de que o PS açoriano luta neste momento com a sua incapacidade de em duas décadas e meia ter iniciado na Região um novo clima de modernidade. Se nos Açores o PS se debate com essa dificuldade, algo de similar se passa no continente onde o grave problema das polícias mostra que o Governo de António Costa deixou pontas comprometedoras para solucionar e que isso se vai abater sobre este período que se alongará até ao 10 de março. Obviamente que a queda de dois deputados no Parlamento regional não é uma hecatombe e que o PS açoriano continuará a ser uma força determinante na defesa e aprofundamento da autonomia regional. Mas o que ressalta dos dados da noite de ontem é que o dinamismo político regional não passa neste momento por Vasco Cordeiro ou outra qualquer liderança que o partido lance na cena política. Algum dinamismo, reduzido, existe na AD liderada por Bolieiro, mas a principal força catalisadora está neste momento no Chega e isso é pior, em meu entender, do que um possível deslocamento do anticiclone dos Açores.
Montenegro teve o seu momento de coragem insistindo contra tudo e contra todos em estar presente na noite eleitoral e terá saído da Região pelo menos sem o anátema de ver Bolieiro nos braços do Chega para constituir uma coligação governamental, o que não significa que tal não possa acontecer. Mas pelo menos na refrega da noite eleitoral, Montenegro por agora escapou e atenuou o pesadelo madeirense.
Em meu entender, do ponto de vista da possível extrapolação eleitoral para o 10 de março é o PS que se encontra em posição mais difícil. Não me venham com a história de que não é possível extrapolar. A um mês das eleições legislativas nacionais, obviamente que a noite de ontem tem repercussões e sérias.
De facto, o PS está neste momento encurralado entre duas posições: por um lado, continuar a insistir que a direita democrática (sem o Chega) não é capaz de gerar uma maioria estável de governação, como o fez ontem Alexandra Leitão, mas que é a meu ver uma solução pírrica, porque pelo menos nos Açores também o PS não é capaz de o assegurar; por outro lado, teria a alternativa de, sob algum acordo parlamentar, viabilizar orçamentos da AD e permitir que a AD governe 4 anos na Região, mas ao fazê-lo teria de esclarecer se o fará ou não no continente acaso uma situação similar possa formar-se; neste caso, estaria a dar indicações ao eleitorado da AD de que pode nela votar que mesmo sem maioria absoluta poderão chegar ao governo. Insistindo na primeira posição, forçando a barra nesse sentido, o PS Açores conduzirá a um novo ato eleitoral que, nas condições de dinamismo político existente, ser-lhe-á sempre desfavorável ou lançará a AD Açores nos braços do Chega e a entrada deste na governação regional. Claro que alguns desenvolvimentos e nuances poderão acontecer, como por exemplo a estranha reedição do acordo que saiu das eleições de 2020, mas o poder de barganha política do Chega é hoje muito superior.
Em meu entender, veremos agora que os efeitos eleitorais da sucessão de António Costa no PS não se esgotaram nesse período. As hostilidades no interior do universo de Pedro Nuno Santos já se iniciaram. Francisco Assis, Pedro Delgado Alves e Ana Gomes já se manifestaram que o PS Açores deveria viabilizar o governo minoritário da AD sob algumas condições, mas Alexandra Leitão mais próxima de PNS torceu-se toda com essa hipótese e desviou para canto com a ideia de que isso compete ao PS Açores decidir.
A questão para mim sempre foi muito clara. A democracia portuguesa não deve por sua livre iniciativa abrir o caminho à entrada do Chega na governação e facilitar-lhe a vida. Por isso, viabilizar com condições um governo minoritário da AD nos Açores não significa ficar inibido e deixar de ir à luta eleitoral para o 10 de março, criar uma dinâmica de vitória, procurando soluções para as perigosas pontas soltas que António Costa deixou no seu trajeto e das quais SNS e polícias são as mais graves.
Será que PNS e sua entourage compreenderão isto?
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