(Argumentando que a direita portuguesa, ao contrário da espanhola, não gosta de manifestações, Clara Ferreira Alves na Pluma Caprichosa deste fim de semana no Expresso exercita, no auge da argumentação, a sua faceta de socióloga de ideias apressadas, dissertando sobre a aversão da classe média portuguesa, incluindo a média baixa, aos transportes públicos. Mais uma vez confirmo a ideia de que a elite lisboeta, fortemente internacionalizada e cosmopolita, mas desconhecedora do país e com mapas mentais cada vez mais agarrados à ambiência lisboeta, profere dislates e há quem lhe pague para isso. Que bom que seria se a jornalista deixasse de escrever sobre o país e se concentrasse na sua experiência internacional e cosmopolita e sabedora dos equilíbrios geoestratégicos mundiais. Todos ganharíamos e o rigor também.)
Citando:
“(…) A direita protestou, em privado, e aceitou. Nunca desfilou ou se manifestou, nunca pegou numa bandeira portuguesa para marcar uma posição ou uma ideologia. A razão desta passividade é simples, para a direita portuguesa uma manifestação ou uma concentração, ou um protesto público com desfile e discurso, são coisas da esquerda. É um preconceito igual ao que impede a classe média portuguesa, incluindo a classe média baixa com magros rendimentos, de utilizar os transportes públicos. Nunca os verão numa paragem de autocarro, numa estação de metro ou nos comboios suburbanos. Os transportes públicos são uma coisa de pobres, de imigrantes e de turistas, não são para a nossa empobrecida classe média”.
Trata-se de um autêntico tesourinho típico de uma elite lisboeta cosmopolita, é verdade, mas com um mapa mental do país cada vez mais exíguo. A apressada caracterização socioeconómica dos utentes dos transportes públicos de alta capacidade serve apenas para a jornalista argumentar que a direita portuguesa não gosta de se manifestar publicamente. É discutível mas até poderei aceitar. Quanto aos transportes públicos, o rigor passou ao largo, bem ao largo.
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