sexta-feira, 16 de fevereiro de 2024

DESANUVIAR (2)

 


(Hoje, ao fim da tarde, descansava nas escadas em frente ao Tejo do MAAT, depois de ver a exposição da Joana Vasconcelos. Quando olhava meditadamente a paisagem não pude deixar de pensar que naquele contexto que se prolonga até ao Cais das Colunas do Terreiro do Paço imagino que possa haver ainda alguém a remoer nas memórias do Império. Claro que a dimensão real de um Império depende fundamentalmente da sua capacidade de defender as suas existências territoriais e, quanto a isso, o nosso Império verdadeiramente não existiu. Mas deixemos a minha meditação paisagística que foi rapidamente substituída por um copo de branco seco. A obra e esta exposição da Joana Vasconcelos é daquelas coisas que podemos gostar ou não gostar, mas à qual não podemos ficar indiferentes.)

A Árvore da Vida cuja imagem abre este post dedicado a uma segunda parte do desanuviar (1) é uma obra que a grandeza não ofusca a beleza e que joga bem com a arquitetura rude e industrial do edifício em que a exposição se inicia para depois se prolongar no novo edifício do MAAT. Imagino o impacto que a obra terá suscitada na igreja de Paris em que foi pela primeira vez mostrada ao público.

O chamado Polvo gigante é uma obra menos icónica do que a Árvore da Vida mas confirma o epíteto de arte excessiva proveniente de uma artista criativa mas ela própria expressiva e com um talento enorme para o domínio dos espaços de grandes dimensões.

Mas a exposição é imperdível e encontrou nos dois edifícios do MAAT o espaço de inserção propício a ser olhada pelas lentes dos espaços de grande dimensão.

Quanto ainda mais para o fim do fim de tarde mergulhei na convivialidade do Jardim de Santo Amaro das sextas feiras, única pelas paragens de Alcântara, com uma confraternização única entre jovens pais e alunos das escolas circundantes e alguns cotas, alguns avós como eu, o ambiente já não era de memórias do império. Mas tão só atmosferas simples de convivialidade urbana que um copo ou uma imperial ajudam a prolongar, aquilo que precisamos urgentemente de manter nas grandes cidades para o nosso equilíbrio mental.

Desanuviar também passa por aqui.

 

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