Em boa hora surgiu a editora “Livros Zigurate”, dirigida por Carlos Vaz Marques (o pivot do excelente “Programa Cujo Nome Estamos Legalmente Impedidos de Dizer”) e vocacionada para a não-ficção. Já são bastantes os títulos publicados, quase todos bastante oportunos e interessantes (e obedecendo a um agradável formato quase de bolso), mas quero hoje referir-me a dois dos mais recentes que, seguindo a linha de outros anteriormente dados à estampa (“Na cabeça de Putin” e “Na cabeça de Xi”), procuram fornecer aos leitores nacionais alguma informação arrumada sobre os dois candidatos a primeiro-ministro nas próximas eleições legislativas de 10 de março: “Na cabeça de Pedro Nuno” (pela jornalista do “Público” Ana Sá Lopes) e “Na cabeça de Montenegro” (pelo jornalista do “Observador” Miguel Carrapatoso).
Os livros em causa são de leitura rápida e utilmente recapitulativa em relação às vidas (políticas, sobretudo mas não exclusivamente) dos dois políticos. Que me desculpe o seu autor (Vítor Matos, jornalista do “Expresso”), mas opto por deixar de lado uma terceira obra similar que é dedicada ao presidente do “Chega” mas que, impulsivamente e consideradas as caraterísticas de vendedor da banha da cobra reveladas pelo dito, me suscitou algum repúdio e fez sentir desobrigado de adquirir.
Sugiro ao leitor a tarefa de avaliar por si próprio o que pode ser retirado dos trabalhos em apreço, algo necessariamente subjetivo e ademais função da atenção com que se foram registando os acontecimentos que envolveram Pedro Nuno e Montenegro ao longo das últimas três décadas (grosso modo). Ainda assim, e apenas numa perspetiva de aguçar o apetite, sempre direi que Ana Sá Lopes nos descreve um Pedro Nuno com boa formação económica e pensamento político consolidado, sem prejuízo de também não deixar de abordar criticamente os seus mal explicados pecados enquanto governante. Quanto a Montenegro, o que mais me impressionou na explanação de Miguel Carrapatoso foi a sua prolongada vertente aparelhista, envolvido que esteve em inúmeras e desencontradas trapalhadas no seio do PSD, e a sua dimensão de “pé frio”, sucessivamente observada em derrotas internas ou externas que partilhou ou protagonizou até que um momento de sorte lhe veio a sorrir com a demissão de António Costa.
Para ser completamente verdadeiro, devo ainda acrescentar que por aquelas páginas vão surgindo também, em compensação, dados e elementos suscetíveis de permitirem que um e o outro possam ser lidos sob outros e bem distintos ângulos. Como, por exemplo, o facto de ambos terem origens familiares estáveis e financeiramente folgadas ou o facto de estarmos perante personalidades muitíssimo distintas (entre a impulsividade e a autossuficiência de um, as quais o levam a sustentar que o realmente importante provem da ação ― aquele seu bem discutível “só erra quem faz ou tenta fazer”! ―, e a sobriedade e a humildade do outro, as quais o conduzem a uma indispensável procura de inspiradores, nem sempre brilhantes, para guiarem o seu caminho). E por aqui me fico, na expectativa de que esta minha recomendação possa proporcionar aos eventuais leitores um gozo e um proveito informativo equivalentes aos que eu próprio consegui retirar dos opúsculos em causa.
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