segunda-feira, 19 de fevereiro de 2024

OS DEBATES, O DEBATE E A INCERTEZA DA DECISÃO

(Rodrigo Mendes, https://observador.pt)

O debate desta noite entre Pedro Nuno Santos e Luís Montenegro encerra um triste ciclo de debates a dois entre os candidatos liderantes dos partidos com assento parlamentar. Sendo que ninguém pode saber ao certo, o peso desta jornada final nas opções dos eleitores, designadamente dos indecisos, é de admitir que tenha algum significado se se atentar no facto de as sondagens parecerem indicar fortes dúvidas quanto a quem chegará em primeiro no dia 10 de março e, portanto, terá as melhores condições para aspirar a ser o próximo primeiro-ministro.

 

Deixo dois apontamentos. O primeiro sobre os debates, que constituíram uma manifestação clara da incompetência da maioria dos moderadores (aquela Rosa Oliveira Pinto a não moderar André Ventura contra Rui Tavares ultrapassou todos os limites de tolerância que queiramos ter!), da parcialidade da maioria dos comentadores (com alguns a abusarem do facto, caso por exemplo de Bernardo Ferrão na SIC-N) e da inutilidade substantiva dos confrontos políticos em apreço (dominados por um generalizado taticismo casuístico, irritantemente desligado de uma verdadeira diferenciação das dimensões ideológicas, programáticas, históricas e curriculares essenciais). Ainda assim, sempre direi que nenhum dos protagonistas se revelou objetivamente convincente no cômputo geral e que terão sido Rui Rocha e Luís Montenegro aqueles que melhor se situaram em relação às expectativas que deles se tinham publicamente construído; isto se aceitarmos a peregrina ideia dos comentadores de que o essencial está na forma e não no conteúdo (de outro modo, o discurso da Iniciativa Liberal desceria para o grau zero da inaplicabilidade concreta), ideia peregrina aquela que constituiu um autêntico balão de oxigénio para o insuportável André Ventura (que não apenas não deixa o adversário falar, interrompendo-o a cada segundo com fraseados deslocados e malcriados, como é o rei de uma demagogia em que vale propor tudo e o seu contrário, tal seja ou não constitucionalmente legal, orçamentalmente sustentável ou democraticamente decente). Com Pedro Nuno e Mariana a cumprirem os seus mínimos olímpicos (ainda que me seja incompreensível a insistência do Bloco em nacionalizações impossíveis na conjuntura que vivemos!) e os restantes líderes de esquerda a surgirem bastante apagados e a darem azo a uma previsão de que poderão ter quebras eleitorais com algum significado, também por força de uma possível incorporação dos apelos ao voto útil socialista.

 

Um segundo apontamento sobre os números eleitorais pensados a partir das quatro últimas legislativas. Para um número de votantes estimável acima de 5,5 milhões (como ocorreu em 2011 e 2022), admiti que os três subconjuntos (Esquerda, Direita e Outros + Brancos + Nulos) alcançariam resultados globais equivalentes aos de 2011, ano em que Passos venceu Sócrates, ou seja, e respetivamente, 2,35 milhões, 2,82 milhões e 400 mil. A ser assim, à Esquerda o Partido Socialista só conseguirá ser primeiro se tiver 1,74 milhões de votos (como em 2015, significando contudo uma perda superior a 550 mil votantes face a 2022), se os restantes partidos de esquerda não crescerem globalmente relativamente a 2022 (mesmo que o Bloco possa subir, como certamente sucederá, os outros três teriam de descer) e se, à Direita, o Chega duplicar os seus votos (para cerca de 800 mil) e o Iniciativa Liberal e a Aliança Democrática crescerem pouco por comparação a 2022 (270 mil e 1,7 milhões). Obviamente que o raciocínio é igualmente válido mutatis mutandis. Portanto, e tudo podendo ainda vir a acontecer, o que resulta é uma probabilidade grande de que se venha a impor a dinâmica da mudança contra a preferência pela manutenção do status quo, sendo aqui determinantes vários tipos de questões mas, sobretudo, a de se saber quantos desiludidos e protestantes que hoje ameaçam votar no Chega acabarão por ceder ao canto de Montenegro.

 

Dito isto, o verdadeiro problema é que as escolhas eleitorais não são nem ciência pura nem opções dominadas pela lógica, antes se podendo imaginar largas transferências de voto absolutamente dotadas de inconsequência e incoerência, por um lado, ou de revolta e represália, por outro. Já não falando dos que não estão para se maçar ou dos que só se dispõem à maçada da deslocação para entregarem o boletim em branco ou nele escreverem um qualquer desabafo mais ou menos desopilante, a verdade é que estas eleições se apresentam tão renhidas que tudo leva a crer que será no interior da massa de indecisos e politicamente desqualificados que se encontrará o vencedor.

(José Manuel Esteban, http://www.larazon.es) 

(Andrés Rábago García, “El Roto”, http://elpais.com)

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