Ainda houve quem tentasse empurrá-la para a NATO, ao que parece com alguma ajuda da parte de Biden, mas a senhora sabe bem o que quer para dar sequência à sua carreira em zona de conforto e poder consolidado, pelo que não foi na cantiga de Breton e respetivos apaniguados (sobretudo franceses e liberais, amigo Michel incluído).
Pés ao caminho e eis Ursula a lograr ser indicada como a spitzenkandidat do EPP, tornando-se assim a favorita quase indiscutível a um segundo mandato no lugar que vem ocupando. Mas não só, já que a presidente em exercício, além de possuidora de caraterísticas pessoais muito marcantes (inteligência prática, capacidade de trabalho, voluntarismo), é também dotada de um significativo golpe de rins que a constitui numa taticista política de alto gabarito (que boa parceria fará ou faria com o nosso Costa!).
E Ursula aí está a arrancar com toda a sua versatilidade, emitindo três poderosos e inapeláveis sinais. Primeiro, ao observar a força do movimento dos agricultores e como referi em post anterior, logo se decidiu a enterrar a sua prioridade máxima da candidatura anterior (o chamado Green Deal), aspeto que se lhe tornou grandemente facilitado pela ausência entretanto verificada em Bruxelas do fundamentalista holandês Timmermans.
Segundo, confrontada com a aflição de um bom número de países europeus perante os crescentes riscos provenientes da Rússia (com a agravante de uma possível eleição de Trump), logo veio abdicar do seu verdejante discurso precedente para declarar que com ela a segurança e defesa estarão na primeira linha de opções, assim se comprometendo com a nomeação de um comissário a encarregar de tais matérias e rompendo com uma tradição de décadas de adormecimento europeu.
Terceiro, tomando conhecimento das sondagens eleitorais existentes relativamente às eleições de junho, logo declarou que nada quereria com a extrema-direita populista mas trabalharia sem problema com os conservadores e antieuropeus do grupo ECR (que se estima poderem vir a ocupar a terceira posição naquelas eleições).
Quando, há cinco anos, Ursula surgiu como candidata à presidência da Comissão Europeia, muitos foram os analistas que duvidaram das suas condições de espessura política para o desempenho de tal função. O que não veio a corresponder à verdade, muito por via das particulares situações concretas (da pandemia à guerra) que acabaram por se lhe deparar e por se ajustar às suas caraterísticas de formiguinha voluntariosa. Agora, quando o que se lhe apresenta é toda uma outra realidade, politicamente bem mais complexa, oferecem-se-me claramente as maiores dúvidas sobre a adequação do seu perfil para enfrentar os imprevisíveis cinco anos que estão para vir.
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