(Ontem, ao almoço, o Amigo Professor Leonardo Costa do Centro Regional do Porto da Universidade Católica Portuguesa convidou-me a fazer uma pequena charla com os alunos do curso de Economia sobre o meu percurso como Economista. Tenho boas recordações do período em que no âmbito da cooperação entre a UC e a FEP lecionei creio que durante três anos letivos a cadeira de Desenvolvimento Económico. Essa boa experiência estendeu-se aos tempos em que o Doutor Joaquim Azevedo assumia as funções de Direção do Centro Regional em que participei como coordenador da QP nos trabalhos de planeamento estratégico do Centro Regional. Tive assim oportunidade de conhecer melhor por dentro a capacidade formativa e de investigação do Centro Regional e foi com alguma tristeza que senti nos últimos anos uma tensão interna declarada, fruto de opções de chefia não condizentes com o espírito da Escola. Foi com satisfação que observei ontem que esses tempos estão ultrapassados e que o então ambiente de tensão interna está claramente superado. O clima do almoço de ontem é disso a melhor ilustração e agradeço por isso ao Leonardo Costa a possibilidade de o ter podido observar in loco.)
A minha pequena charla, proferida entre a parte principal da refeição e a sobremesa-café, dirigiu-se a um conjunto de cerca de 40 alunos e alguns professores (entre os quais antigos meus alunos) e tive a oportunidade de rever alguns Amigos como o brilhante Nuno Ornelas Martins que considero o nome mais promissor da jovem geração universitária que se interessa pelo mundo da teoria da economia política.
Como transmiti aos alunos presentes, a minha preocupação era mostrar-lhes que o meu percurso e estatuto de Economista eram bastante atípicos em relação ao padrão normal com que irão confrontar-se quando ingressarem na vida ativa. Foi assim num papel de economista atípico que lhes falei do meu percurso. Desde os tempos da escolha do curso, sem grande racionalidade e mais fruto do caráter disciplinarmente híbrido que o curso de Economia apresentava na altura, até à passagem pelo sótão da FEP no edifício da atual Reitoria em que me confrontei com um curso demasiado híbrido para os meus interesses, os da macroeconomia e da política económica, passando pela entrada na FEP como docente para participar ativamente na reconstrução democrática da Escola, mostrei-lhes que a minha experiência não é propriamente uma “boa prática”. A eterna partilha da investigação e docência com a consultadoria não é uma boa opção à luz dos tempos atuais, embora me tivesse dado gozo na altura, não permitindo nem uma carreira académica sólida, nem a aposta por uma notoriedade maior no domínio da consultadoria.
Terminei com a referência a dois dos meus interesses académicos e profissionais, ambos no exterior do “mainstream da economia”, por isso com a dificuldade adicional de reconhecimento num mundo académico e social voltado para outras coisas, sobretudo de publicação rápida e acessível.
Esses domínios são os da “economia do território”, felizmente redescoberta nos tempos mais recentes através da economia da inovação que finalmente percebeu a relevância dos fatores territoriais nos determinantes (elementos que favorecem) da inovação e o das ciências da organização, claramente deficitárias em Portugal. Procurei mostrar-lhes neste último caso que estamos perante um caso típico de não ajustamento entre oferta e procura. A procura de conhecimento-organização é intensa e creio mesmo que os fatores organizacionais representam um dos mais importantes, senão o mais importante, constrangimento ao desenvolvimento em Portugal. Apesar dessa procura revelada, a oferta de conhecimento-organização é incipiente, bastando para isso observar a oferta curricular em Portugal nas ciências da organização, esmagadas pelo peso do management.
Um excelente e diferente almoço, fora da minha rotina.
Um abraço de agradecimento ao Leonardo Costa e para os alunos que tiveram a paciência de escutar a descrição do meu percurso atípico os desejos de uma frutífera e bem remunerada entrada na vida ativa.
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