Confesso que já desliguei largamente do processo eleitoral em curso. Seja porque entendo que o essencial está já adquirido, seja porque me irrita o modo como se vão desenrolando algumas campanhas que, em condições normais, tenderiam a ser as mais simpáticas aos meus olhos. Mas no último final da tarde, e completamente por acaso, deparei-me com a transmissão de um comício da AD no Algarve em que o convidado de honra era o nosso velho conhecido Pedro Passos Coelho. Não resisti a ficar a ver e ouvir um homem de que quase já se me tinha escapado da memória aquela atitude mista de mistério e altivez, duvidosamente dissimuladora da essência de um ser que se considera superior e capaz de enxergar mais longe do que os seus semelhantes. E, descendo a um nível mais concreto, pareceu-me também claro que aquele Passos estava ali para cumprir um calendário que lhe era forçoso, não querendo por isso deixar de se centrar em dois tópicos relativamente embaraçantes para Montenegro (a quem, naturalmente, augurou uma vitória obrigatória face ao desastroso desgaste “costista”): por um lado, o da relevância da questão da segurança para a maioria dos portugueses para logo sublinhar um nexo não comprovado entre a sensação de insegurança e o peso da imigração em Portugal; por outro lado, o de que o líder do PSD haverá de fazer tudo o que for necessário para garantir uma base de apoio governativa que lhe permita realizar o seu programa no pós-10 de março (“não deixará de procurar o que lhe faltar para poder fazer o que é preciso”), que o mesmo é dizer que o “não é não” ao Chega pode ter de ser vergado perante a presença de valores mais altos que se venham a levantar. Não sei, não, mas vejo como duvidoso que este Passos seja um ativo útil para Montenegro; embora tudo indique que este só precisa de não cometer grandes erros para ser o primeiro na meta.
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