(Mesmo sem ter sido dado conhecimento ao país de qual vai ser a composição definitiva do Governo, ou seja sem que sejam conhecidos os nomes do(a)s secretário(a)s de Estado, elemento essencial para se compreender a organização de alguns ministérios, como o da Educação, por exemplo, Luís Montenegro apresenta-se como se fosse portador de uma maioria significativa, não direi absoluta, mas quase. Não está obviamente em causa a aspiração de governar mesmo em situação minoritária para quatro anos, qualquer um pode ter a ambição à sua medida. Mas não há outra palavra mais acertada senão a de chantagem para caracterizar o tango que Montenegro e seus parem oferecem ao PS. Tenho para mim que Montenegro fez dele a onda que atravessa uma grande parte do comentário político, com relevo para as Conversas em Família de horário nobre aos domingos de Marques Mendes e Paulo Portas. Tudo se passaria como se o PS tivesse a obrigação moral de prolongar a vida do governo minoritário. Isto não é mais do que uma arrogância pesporrente sem sentido e que mais do que ambição é prova de fraqueza à partida. A obrigação do PS é apenas a de salvaguardar o programa político que apresentou aos Portugueses nas eleições de março após 8 anos de desgastante e por vezes desajeitada governação. E também a de trabalhar com rigor o cálculo político dos efeitos das suas decisões no contexto atual, difícil, da democracia portuguesa. A tarefa de Pedro Nuno Santos e seus pares é gigantesca atendendo à fuga de mais de quinhentos mil votos e a necessidade de recuperar VOZ e CONFIANÇA junto de largas franjas do eleitorado. Esta é a questão fundamental que a democracia portuguesa exige ao PS e não a de servir de muleta a um governo PSD+CDS, já que o PPM se ausentou para parte incerta, sobretudo numa altura em que nem sequer são conhecidos o programa e a composição definitiva do Governo. Tudo o resto é narrativa para adormecer meninos em estado de negação.)
De facto, não lembraria ao careca estar a exigir ao PS clareza quanto ao modo como se vai comportar na Assembleia e na mediatização política sem conhecer qualquer proposta ou objeto de negociação que o Governo pretenda apresentar. Fazê-lo nestas condições equivale a pedir a um cheque em branco ao PS para sossegar os espíritos da AD tão contentes que eles estão por finalmente regressar ao poder.
Montenegro tem cultivado o silêncio e começo a compreender porquê. É que quando se manifesta é impossível não voltar a reconhecer o Montenegro que colocou o grupo parlamentar do PSD em estado de negação durante largos meses depois de ser formado a maioria política da geringonça que retirou a Passos Coelho a possibilidade de governar com a sua vitória após Troika e de ter ido para além da mesma.
O problema central no PS vai ser a de manter a unidade, esperando diligentemente pelas matérias concretas de negociação que o governo de Montenegro pretenda colocar no palco da conversa possível. Só alguém muito distraído poderá pensar que o PS deva ter uma posição de rejeição absoluta e total de qualquer acordo. Mas será necessário manter a unidade e sobretudo a frieza de espírito para analisar critica e seletivamente o que merece negociação. Afinal toda a gente parece ignorar que o PSD tem o mesmo número de deputados do PS. Logo, pedir cheques em branco, sabe-se lá por alma de quem, é pesporrência demasiada para meu gosto.
Vamos entrar num período estranho da barganha política. E para os que dentro do PS já não se contêm e proclamam que é preciso dar a mão em abstrato ao Governo conviria lembrar-lhes que a ideia de que será fácil ao PS recuperar eleitorado e confiança junto do mesmo separadamente da atitude de firme oposição na Assembleia e na mediatização da política é peregrina e totalmente desfasada da realidade política.
Tudo isto claro num contexto em que o fundamental é preservar a saúde da democracia portuguesa.
Por isso, é essencial que Montenegro e seus pares se deixem rapidamente da pesporrência dos primeiros entusiasmos e apresentem matérias concretas para uma eventual negociação política. Só nesse campo concreto dos temas e da negociação poderá exigir ao PS algo que não seja conversa da treta.
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