Acabo de terminar a leitura de “A Hora dos Lobos – A Vida dos Alemães no Rescaldo do III Reich” (Harald Jähner, 2023, edição portuguesa pela Dom Quixote), um livro fascinante sobre a reconstrução da Alemanha na sequência da devastação e dos traumas da Segunda Guerra Mundial. Por onde perpassam a escassez e a penúria do retorno às necessidades básicas, com a fome e o frio a imperarem, e o de outro modo improvável recurso a crimes de pilhagem e roubo por parte de cidadãos “normais”, como também o mal-estar e a revolta associados à convivência entre colaboradores ou entusiastas do regime hitleriano (agora mais ou menos encobertos ou até envergonhados) e os seus opositores ou resistentes (agora aliviados mas descontentes com a impunidade dos outros). Por onde perpassam também os mecanismos e expedientes a que foi feito recurso para se lograr limpar os escombros de uma sociedade arrasada e dividida mas obrigada a cooperar para se reerguer e reconstruir. Por onde perpassam ainda os dramas psicológicos e os desafios sociais e intelectuais que marcaram aquela primeira década do pós-guerra, do regresso dos combatentes aos refugiados, dos desalojados em ruas e abrigos de emergência aos ocupantes de apartamentos em ruínas, dos bodes expiatórios à invenção de novas identidades, dos impulsos de uma regressada vontade de diversão às renovadas manifestações da arte e da literatura, das vicissitudes dos racionamentos e do mercado negro ao surgimento de pequenos negócios, das reformas que relançaram a indústria automóvel (com centralidade no “Carocha”) à reforma monetária. Em suma: “A Hora dos Lobos” é um repositório histórico incontornável, repleto de informação documental e factual (alguma inédita) que importa conhecer para melhor se compreenderem as contradições da história alemã e as irrepetibilidades a serem perseguidas para que nunca mais.
quarta-feira, 10 de abril de 2024
RECOMENDAÇÃO LITERÁRIA
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