(Ontem, já depois do jantar da sempre agradável tarde com os netos do Porto, uma daquelas notificações irritantes que as assinaturas eletrónicas nos proporcionam muitas vezes sem pachorra para as anular chamou-me a atenção. Era assinada pelo Diretor do Expresso João Vieira Pereira e tinha o seguinte título – “Nota do Diretor: é mais do que um embuste. É enganar os portugueses”. Oh, esta é forte. E, ao contrário do que normalmente faço, apressei-me a ler a referida nota do Diretor. Em modo bastante incisivo, mas irritado, João Vieira Pereira pede desculpa aos leitores pela publicação de uma notícia objetivamente falsa. Mas que raio de notícia seria essa? A notícia tinha por base uma afirmação de Luís Montenegro no Parlamento segundo a qual duplicaria a descida do IRS até ao verão. Misteriosamente, ninguém entre os especialistas da matéria duvidou da afirmação e ela fez notícia. Não se contendo, JVP afirma: “A redução de IRS que Luis Montenegro anunciou com pompa e circunstância, a redução de impostos que andou na campanha eleitoral a defender, é afinal falsa. São apenas pequenos ajustes sobre a redução já anunciada por António Costa no Orçamento para este ano. Os 1500 milhões de euros são apenas €170 milhões, porque 1330 milhões de euros foram já implementados pelo anterior governo. Luis Montenegro apresentou uma redução de impostos que não passa de um embuste (em sublinhado na nota do Diretor).)
Comecei, em primeiro lugar, por interrogar-me sobre as razões que me tinham levado a reagir tão rapidamente a tal notificação. A explicação é simples. Nos últimos tempos, o tom da comunicação social alterou-se profundamente, como se estivéssemos num país diferente. Se assim fosse por todo o lado, o tema e os riscos da instabilidade política seriam mandados às malvas e toda a gente atirar-se-ia a eleições para mudar os países e as suas desconformidades. A utilização de palavras como embuste e enganar os portugueses são palavras fortes para uma nota de Diretor de um jornal com o peso do Expresso. Por isso, imagino que por detrás daquela irritação espontânea de JVP estarão outras razões ou preciosidades das quais não iremos ter conhecimento.
Por tudo isto, embora não abandone a minha expressão de o governo do benefício da dúvida, já que o novo governo a merece por questões de tolerância política, a verdade é que, em meu entender, as personalidades políticas não mudam como se fossem atingidas por toques de Midas. E Luís Montenegro é o que é, um homem esforçado e que chegou provavelmente onde queria, talvez não nas condições que desejasse, mas é a vida, mas isso não chega para granjear a minha confiança.
E esta notícia do Expresso fazendo mea culpa de algo que considerou ser uma notícia falsa que terá publicado é bem a prova da minha desconfiança política. E, já agora, com o governo a funcionar e com os diferentes Ministros a ter que dar à perna muitas incongruências irão emergir. Até porque não é possível ter uma central de comunicação interna, uma espécie de lei da rolha de última geração, que controle os desejos de aparecer a dizer coisas em público. E como já disse antes, este é um governo que vai distinguir-se seguramente pelo parlapatório (não sei se a palavra existe, se não existir passa a existir no meu vocabulário).
Isto começa mal!
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