terça-feira, 23 de abril de 2024

PORQUÊ E PARA QUÊ, RUI?


Os dois maiores partidos portugueses (pelo menos por enquanto) aprovaram na passada noite as suas listas ao Parlamento Europeu. Enquanto o PS decidiu lançar Marta Temido como cabeça-de-lista e mudar de alto a baixo toda a sua gama de eurodeputados (nem Pedro Silva Pereira, nem Pedro Marques, nem Carlos Zorrinho, nem Margarida Marques, nem Maria Manuel Leitão Marques, nem Isabel Santos resistiram à varridela geral de Pedro Nuno!), o PSD apareceu com o comentador televisivo Sebastião Bugalho a número 1 da sua lista, assim afastando o nome favorito (e dado por toda a comunicação social como certo), o do presidente da Câmara do Porto Rui Moreira. Este jogou a sua cartada na matéria (como outras em paralelo) de um modo visível pois que já há meses (ou até anos) se falava dos seus namoros com Montenegro e que, quando Costa saiu de cena e de algum modo o libertou, não se fez rogado em concretizar a sua aproximação e apoio à AD; mais recentemente, Moreira fez constar com a devida pompa que aceitaria ser cabeça-de-lista às Europeias se depois viesse a ser Comissário (mas por alma de quem assim poderia ser ou faria sentido que fosse?) e ontem à noite, no seu comentário na CNN, ainda protagonizou o momento que seguidamente transcrevo (sem quaisquer apontamentos, para não influenciar a interpretação do leitor).

 

ENTREVISTADOR – O seu nome tem sido cada vez mais mencionado como cabeça-de-lista [da AD às Europeias]. Sente o apelo?

RUI MOREIRA – Quanto àquilo que me pergunta, dir-lhe-ia o seguinte: como compreende, eu não posso comentar, nem posso revelar, muita coisa. Ainda assim, dizer que me sinto lisonjeado pelos comentários que tenho ouvido e que naturalmente não posso antecipar aquilo que vão ser decisões – como, aliás, o Dr. Nuno Melo dizia – dos órgãos partidários, do PSD, e que portanto, se isso vier a surgir, pronunciar-me-ei publicamente sobre essa matéria. Hoje, não posso, de facto, dizer nada mais relativamente àquilo que, de facto, tem vindo na comunicação social e que é o que, julgo saber, ainda hoje à noite, há pouco, o Dr. Luís Marques Mendes referenciou.

ENTREVISTADOR – O que é que pensa quando vê o seu nome ser referido tantas vezes para a possibilidade de cabeça-de-lista às Europeias pela AD?

RUI MOREIRA – Oh André, durante os últimos anos há muitas coisas que me têm sido apontadas. Lembro-me, logo que fui eleito, dizia-se que eu estava de passagem para ser Presidente do Futebol Clube do Porto. Não sei se se recorda disso. E depois várias outras coisas foram sendo sugeridas. E eu também sempre disse que aquilo que queria fazer, e que fez parte de um projeto de vida, foi ser Presidente da Câmara Municipal da minha Cidade, da Câmara Municipal do Porto. Também é verdade que o desempenho que tenho tido como Presidente da Câmara Municipal do Porto – que agradará a uns e não agradará a outros – se aproxima do seu fim. Neste momento, aquilo que eram os meus grandes planos, os meus grandes objetivos, estão, na sua grande maioria, ou concretizados ou numa fase de maturidade que me permitem olhar agora para o futuro e pensar naquilo que devo fazer. E também lhe digo, muito abertamente, que a questão da Europa é uma coisa que me interessa e que, principalmente, me preocupa. Eu acho que nós todos temos que nos preocupar com a Europa, temos que nos preocupar com o projeto europeu. O projeto europeu foi o grande projeto do século XX para os europeus, depois de duas guerras devastadoras. E, neste momento, nós precisamos de lutar por esta Europa que queremos. Uma Europa que está ameaçada por guerras, por outras ameaças, e, por isso, confesso também, sem rebuço, que é um projeto que de alguma maneira me atrai.

ENTREVISTADOR – Sem querer insistir demasiado no assunto, existiu algum contacto?

RUI MOREIRA – Ouça, como compreende eu não vou falar sobre contactos. Se me perguntar se eu fui formalmente convidado, eu não fui, como já disse várias vezes.

 

Ao início do dia de hoje, percebeu-se a existência de revolta contra a hipótese Moreira no seio do PSD-Porto (com Luís Filipe Menezes a ajudar a missa com a sua proverbial classe). E, já perto do final da tarde, Bugalho emergiu na boca do líder do PSD, acompanhado da informação de que Moreira não teria aceitado ser o número 2 da lista (a única coisa verdadeiramente ajuizada que este fez). Das duas uma: ou Montenegro achou que Moreira estava no bolso, por querer desesperadamente um lugar europeu, e assim guardou para o fim a decisão que tinha pensada quanto ao futuro que reservava ao edil portuense (e assim o toureou durante um longo período); ou Montenegro ia avançar com Moreira mas temeu a discórdia interna e mudou de ideias à última hora, na esperança de que Moreira talvez não recusasse. Como quer que seja, parece claro que Moreira agiu num quadro misto de lorpice e presunção, acabando a beber de um veneno que alguns alegam que lhe tem vindo a ser fatal ao longo da vida. Uma trapalhada em que, dadas as suas qualidades pessoais, e até de uma razoável sensibilidade política, o Rui que me habituei a respeitar não tinha qualquer necessidade de se deixar apanhar (ou, pior, de nela ser um agente maior?) – e é assim que, pessoalmente, hesito com sinceridade entre um detestável sentimento de compaixão e uma triste sensação de arrependimento.

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