(Sabemos que as insuficiências de medida do bem-estar material, a questão da felicidade e como medi-la é outro campo, que o PIB nos oferece podem ser mitigadas de formas diversas. Uma dessas alternativas é cruzar o nível e as taxas de crescimento do PIB com a questão da desigualdade na distribuição do rendimento. Essa nova função que daí resulta pode ser objeto de valorações diversas consoante o ponto de vista e os valores de cada um. Haverá pessoas como eu que atribuem enorme significado a esse fator de qualificação do crescimento económico, projetando-o para uma lógica mais ampla de desenvolvimento, e outros tenderão a desvalorizá-la e alguns até ousando afirmando que a procura de uma maior equidade pode penalizar o crescimento económico. Quer isto significar que a melhoria considerável das bases de dados sobre indicadores de desigualdade veio trazer à valoração do crescimento económico e aos seus rumos uma gama imensa de possibilidades de novas valorações, num plano relativamente similar aos que os indicadores sobre preservação do ambiente e da biodiversidade podem igualmente oferecer. Daí o meu título de hoje. Não são apenas curiosidades o que estes dois gráficos nos trazem, mas antes uma oportunidade de refletir sobre os rumos do crescimento em diferentes países.)
O LIS – Cross-National Data Center com origem no Luxemburgo é uma das organizações que mais tem feito avançar esta perspetiva, com forte ligação ao World Inequality Report, edição de 2022 já publicada.
Os dois gráficos que vos trago hoje à boleia de tweets de Branko Milanovic têm a particularidade de, com base no indicador mais simples e divulgado de desigualdade na distribuição do rendimento, o coeficiente de GINI a variar entre 0 e 1, respetivamente, o mínimo e o máximo de desigualdade de uma dada distribuição de rendimento, nos contrapor modelos de desenvolvimento como o da Suécia e os do Brasil e Colômbia.
O gráfico relativo à Suécia é especialmente revelador. Tal como outros países escandinavos, a Suécia costuma ser indicada como exemplo de boa coexistência entre crescimento, inovação e uma relativa equidade na distribuição do rendimento. O gráfico revela de facto que apesar da sua variação o coeficiente continua a situar-se em valores comparativamente baixos. Porém, o aumento da desigualdade é manifesto, revelando que os fatores estruturais (e também de alteração de orientação política) que têm agravado a desigualdade na generalidade das economias avançadas atinge também o universo escandinavo, o que demonstra a sua relevância.
O segundo gráfico é também interessante pois, ao situar-se em níveis de desigualdade bastante mais acentuados, mostra que mesmo nesse campo é possível registar e fazer a diferença. Assim, o modelo brasileiro está a revelar-se mais propenso à mitigação da desigualdade (e não foi seguramente nos tempos tenebrosos de Bolsonaro e seus pares) do que o modelo da Colômbia. Para esta diferença, muito terá contribuído o regresso de Lula ao poder e a tentativa de reeditar os seus projetos de luta contra a pobreza, cujos resultados foram reconhecidos por todas as organizações internacionais, e que parecem poder de novo fazer a diferença.
Cada um pode valorar como entender estas observações. Estamos no domínio dos sistemas de valores a que o PIB não dá resposta por si só.
Em período de um novo ciclo político em Portugal, valerá a pena seguir no futuro próximo a evolução do coeficiente de Gini.
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