sábado, 13 de abril de 2024

APRIORISMOS SEM VERGONHA

 

No Portugal de hoje, o âmago da política está a ser capturado pelo jogo do comentário político. E este, por sua vez, está a redundar num entertainment de baixo nível, feito por personagens cuja impreparação aflige e cuja agenda é indisfarçavelmente reveladora. Pagos principescamente para dizerem coisas, ei-los a pronunciarem-se em permanência nos diversos canais sobre tudo e o seu contrário, sendo de todo irrelevante a relação entre aquilo de que falam (“eles falam, falam, mas não dizem nada”) e o cumprimento de mínimos capazes de os qualificar para terem direito a falar. No fim do dia, importa é que o cheque apareça e que a notoriedade do estrelato televisivo vá fazendo o seu caminho.

 

Isto dito numa generalidade que é válida para muitos, para a maioria diria mesmo em relação a uma amostra de incompetência em que admitia que os Ferrão ou os Crespo eram casos extremos de má fé e presunção, e ressalvando as honrosas exceções que ainda nos vão brindando com a sua cada vez mais rara presença, a verdade é que me foi dado assistir na noite passada (no “Contra Poder” da “CNN Portugal”) ao exemplo mais paradigmático de desfasamento, distorção, parcialidade e desonestidade intelectual de que me recordo em muitos anos de debates do tipo. O “artista” em causa chama-se João Marques de Almeida e a sua prestação foi simplesmente lamentável e até chocante, entre o risível enrascanço associado à fraude do “choque fiscal” da AD e uma tentativa de passar as culpas para o PS ou entre a “moção de confiança” a Passos por ter ido apresentar um livro de conservadores dele distantes (?) e os esforços de branqueamento, via narrativa invertida, da postura completamente reacionária e antiliberal do homem de Massamá; se não viram, puxem atrás no televisor porque vale bem a pena para se percecionar quão degradante pode ser o nível de abandalhamento intelectual a que alguém com responsabilidades públicas se permite chegar.


(Signe Wilkinson, https://phillydailynews)

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