quarta-feira, 24 de abril de 2024

DESLUMBRAMENTO E IGNORÂNCIA

 
(António Antunes, “O Cartoon de António”, https://expresso.pt

É pró que estamos nesta nossa triste véspera dos cinquenta anos do 25 de abril de 1974! De um lado, o deslumbramento que ressalta do rosto e da atitude do primeiro-ministro desde o dia em que Marcelo selou a sua posse. Um deslumbramento que ainda ontem vimos passear gingonamente pelos corredores de Serralves, um deslumbramento que levou o novo caloiro do Conselho Europeu a uma conferência de imprensa final em que enumerou cada um dos cromos que dele estavam ali por perto (na mesma sala, pasme-se!), um deslumbramento que permite ao primeiro-ministro comentar as medidas fiscais com cândidas referências a alívios fiscais em benefícios de contribuintes já isentos de IRS, um deslumbramento que fez com que passasse pela cabeça de Montenegro a designação de Sebastião Bugalho para cabeça-de-lista da AD às Europeias (maldita a entrevista ao “Expresso” que lhe terá despertado a tentação!) e o toureio com que decidiu que iria brindar Rui Moreira numa confiantíssima (mas aparolada) lógica de “dois em um”... Poderão alguns contrapor-me que descanse porque lá há de chegar, mais dia menos dia, a ocasião para que a cabeça de Montenegro deixe de rodar inebriada e tenha de voltar ao real; ao que retorquirei ainda para sublinhar que, pedindo ao deputado Hugo Soares a deferência de não me levar a mal, as incidências políticas em curso o começam a tornar um alvo demasiado fácil, e simultâneo, para os seus opositores à direita e à esquerda, permitindo vislumbrar uma situação em que teremos este pobre país novamente a braços com querelas eleitorais improcedentes e sem saída ou até conducentes a possíveis encruzilhadas assustadoras – um arranjinho resultante das diatribes de Marcelo e do seu modo completamente individualizado e autocentrado de interpretar o tão apregoado “interesse nacional”.


(Henrique Monteiro, http://henricartoon.blogs.sapo.pt)

Do outro lado, temos um Partido Socialista que, sob uma liderança bem-intencionada e dita de esquerda, decide apresentar uma lista supostamente renovada de candidatos ao Parlamento Europeu. Digo supostamente porque não há, nestas coisas como em quase tudo, renovação sem continuidade ou, talvez melhor, sem capacidade de se trabalhar e construir em cima do adquirido. Tenrinho, na hipótese mais benigna, Pedro Nuno achou que lhe era mais fácil mudar todos e repor o conta-quilómetros a zero; mais fácil porque assim evitando escolhas complexas e injustificáveis (Margarida Marques ou Pedro Silva Pereira, Pedro Marques ou Carlos Zorrinho, Isabel Santos ou Maria Manuel Leitão Marques, Isabel Carvalhais ou Sara Cerdas?) e porque assim tornando mais viável a entrada em lista de apoiantes mais próximos. A esta luz, a lista do PS é bastante má de qualquer ponto de vista. Desde logo, porque não assegura qualquer transição, depois porque integra nomes completamente desqualificados para a função (como as Presidentes de Câmara da Amadora e de Portimão ou alguns jovens turcos sem história que não aparelhístico-partidária), finalmente porque mostra desconhecer a essência do funcionamento concreto do Parlamento Europeu e desvalorizar as áreas vitais pelas quais passarão os grandes desafios do próximo futuro (p.e., quem naquela lista poderá minimamente assegurar as questões económico-financeiras de impacto determinante para o nosso País?). Ignorância, portanto, embora disfarçadamente encapotada por uma renovação pífia e que não passa de mera fachada!


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