segunda-feira, 22 de abril de 2024

O ESTRANHO PAÍS BASCO

 


(As eleições regionais do País Basco ontem realizadas fornecem bom material de reflexão para a tentativa deste blogue acompanhar, por vezes com óbvias dificuldades de contextualização e de proximidade à informação, a estimulante e laboratorial evolução política em Espanha. Em síntese, o Partido Nacional Vasco (PNV) foi o mais votado, mas com o mesmo número de deputados que o BILDU, a força regionalista mais radical. Graças ao bom resultado do Partido Socialista Vasco (PSV), 12 deputados, tudo indica que o PNV possa continuar a governar com o apoio do Partido Socialista. O PP conseguiu ainda assim mais um deputado, tendo agora 7, o VOX continua residual na região com apenas um deputado e, à esquerda do PSV foi o desastre anunciado com o PODEMOS fora da corrida e o SUMAR de Yolanda Diáz reduzido a um deputado. Ao contrário do registado na Galiza em que os resultados foram claramente desfavoráveis a Pedro Sánchez, os resultados do País Basco não só são favoráveis ao frágil acordo que sustenta o governo em Madrid, como mostra mais uma vez que o PSOE é de facto o único partido em Espanha capaz de dar um rumo ao mosaico político regional em que a Espanha se transformou, salvo na Galiza em que os socialistas galegos hibernam por agora, aguardando melhores dias para se fazer anunciar junto do eleitorado. Mas há reflexão a fazer e alguma trabalhando uma realidade que não é fácil entender.)

O avanço do voto radical do BILDU, já anunciado em sucessivas sondagens, dá que pensar, sobretudo porque parece resultar de uma fratura etária da sociedade basca. Os regionalistas mais velhos continuarão ligados ao PNV, ao passo que o eleitorado mais jovem parece ter-se aproximado do impetuoso Arnaldo Otegui e do BILDU. Esta aproximação é em si estranha, tendo em conta que a manter-se uma reminiscência de ligação à ETA, o BILDU é claramente a força política mais próxima dessa reminiscência. Em plena campanha eleitoral, o candidato do BILDU viu-se envolvido em afirmações titubeantes sobre a natureza da ETA, agora que ela depôs as armas e se extinguiu, mas mesmo assim parecia que o Herri Batassuna ainda existisse. Apesar deste radicalismo, conquistar 27 deputados, empatando com o PNV, e ficando bastante próximo em número de votos ganhos (341.735 contra 370.554 do PNV), é obra e faz pensar que a juventude está mais próxima do independentismo.

O PNV é um partido matreiro que soube historicamente aguentar a presença incómoda do terrorismo da ETA e conseguiu por esta via um estatuto de autonomia que é de longe o mais avançado de Espanha e que agora os independentistas catalães procuram replicar na Catalunha. Mas a fratura etária de que sofreu nestas eleições é preocupante do ponto de vista da contenção das aspirações independentistas. Como é compreensível, ambos parceiros do acordo parlamentar com o PSOE para aguentar a governação, mais tarde ou mais cedo esta fissura etária irá traduzir-se no campo desse mesmo acordo, tendo por aí Sánchez mais uma dor de cabeça. Mas o resultado de 149.660 votos e de 12 deputados do PSOE basco, ganhando mais 2 deputados do que os já existentes, constitui, por outro lado, um fator de esperança para Sánchez, suscetível de pelo menos afastar o BILDU da governação regional. As contradições da situação política atual são mais do que muitas e a prova é de bem há pouco tempo (2013) o PSOE articulou com o BILDU de modo a este recuperar o município de Pamplona.

Mas se pensarmos na votação esperada na Catalunha para o PSOE catalão e agora este tampão no País Basco mais consciente estou do que sempre pensei ser algo de evidente. Só o PSOE conseguirá um dia dar o rumo aos independentismos, pois a sua massa eleitoral conta nessas sociedades, apesar de todas as contradições. O espanholismo conservador e extremado do PP afasta-o destas corridas e prova disso é a sua fraca expressão eleitoral na Catalunha e no País Basco.

O que em meu entender não é coisa pouca para entender as reais dificuldades de passagem a uma possível governação de um PP agora maioritário nas sondagens nacionais.

 

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