segunda-feira, 2 de maio de 2016

AINDA A SESSÃO SOBRE A REVISÃO DO PDM




(Um excelente fim de tarde proporcionado pelo convite do Manuel Correia Fernandes com debate travado essencialmente em torno da ideia do como fazer)

A minha charla para um diálogo imaginário entre um senador (Professor Valente de Oliveira, em boa forma) e um disciplinarmente indisciplinado como eu passou bem e levou o debate para a questão fundamental: como se constrói a visão metropolitana, como é que se gere e planeia essa dimensão a partir da revisão do PDM da Cidade central?

A sensibilidade do Professor Valente de Oliveira levou-o a defender que tal se conquista discutindo, debatendo, negociando, com tempo e uma agenda para tal. É curiosa a sua invocação de um opúsculo de Ezequiel de Campos, intitulado Prólogo para um Plano do Porto, elaborado pelo próprio sem nenhuma encomenda específica e depois de calcorrear a Cidade, propondo soluções e uma abordagem ao planeamento, em 1932, esclareça-se. A figura de prólogo é para Valente de Oliveira uma abordagem operativa ao tema, como base de discussão e apoio à futura negociação.

O meu contributo para a discussão incidiu mais na necessária legitimação democrática do policentrismo, sobretudo existente no coração metropolitano do Grande Porto, e manifestando o meu pessimismo pelo facto da eleição política metropolitana por sufrágio direto se concretizar num modelo de área metropolitana, correspondente à atual NUTS III, cujo potencial de planeamento é para mim reduzido. Não é que pense que essa composição iniba a legitimação democrática por sufrágio direto. Defendo apenas que no coração do Grande Porto seria mais fácil definir os temas metropolitanos sobre os quais é necessário interessar o cidadão metropolitano para atrair e justificar a necessidade da sua participação. Parece-me mais difícil na formulação atual integrar num mesmo projeto municípios como Oliveira de Azeméis ou Vale de Cambra, por um lado e Trofa e Santo Tirso, por outro, com o risco dos eleitores dos municípios mais periféricos participarem numa eleição com temas fundamentalmente dirigidos ao coração metropolitano. Mas não é uma inibição e a legitimação democrática pode começar por situações não ótimas.

Uma boa sensação de debate cumprido, um retorno da minha parte aos temas metropolitanos. E o fim-de-tarde na Avenida das Tílias nunca se rejeita.

1 comentário:

  1. Caro António Figueiredo,

    Foi com muito interesse que o ouvi nesta sessão. No final ainda tentei intervir em jeito de reacção à sua prelecção, mas já não fui a tempo. Venho, por isso, deixar aqui o meu comentário ao seu contributo.

    Os seus argumentos em torno da “legitimação democrática do policentrismo” parecem-me pertinentes. Seria, de facto, importante encontrar formas de tomar decisões que afetam a região metropolitana de forma mais democrática. Não sei bem se a solução passará pelo mecanismo eleitoral, mas a ideia de fomentar formas de cidadania metropolitana agrada-me.

    Mas o meu comentário era outro.

    Ouvi-o também dar grande ênfase à visibilidade internacional do Porto. Tal como disse e foi reiterado pela audiência: é necessário olhar para o Porto a partir do exterior. No fundo, pareceu-me ainda argumentar, é aí que reside a importância de dar uma estrutura política ao Grande Porto. Porque só uma região policêntrica, a tal região urbana Atlântica, se conseguirá posicionar na economia global. Só assim poderemos ser conhecidos e intervenientes nos espaços da economia global. Só assim mobilizaremos as “massas críticas de recursos” e nos afirmaremos como “Noroeste Global”.

    O meu maior problema aqui é com o pressuposto de que a competitividade é a ambição última do planeamento. É obviamente importante pensarmos a sustentabilidade económica da região, em particular por causa da questão do emprego. O que eu não lamento tão facilmente é a falta de empregos na área tecnológica. O que eu não consigo celebrar tão alegremente é o peso crescente do turismo e o tipo de visibilidade que o Porto tem ganhando a nível internacional. Porque há um lado negro nos processos de afirmação na economia global. Veja-se o caso das cidades mais conectadas à “redes” - de São Francisco a Londres. E esse lado negro tem duas designações habituais: gentrificação e desigualdade.

    Eu não duvido que o António Figueiredo ou a equipa de revisão do plano conheçam bem estes problemas, mas parece-me preocupante (ou, pelo menos, assinalável) que no momento de construção de uma visão metropolitana estas questões nem se quer sejam mencionadas. No fundo, o que está aqui em causa é a função social do planeamento. O que é que nós queremos que o PDM faça? Damos prioridade à “competitividade” ou damos ênfase à equidade? O que é que nós pretendemos da nossa cidade?

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