quinta-feira, 19 de maio de 2016

UNIÃO EUROPEIA: UMA FAMÍLIA DISFUNCIONAL




(Mais uma evidência de que emerge na UE uma agenda política enviesada e não uma estratégia global de superação dos seus problemas)


67 anos já representam alguma coisa em termos de passado, mas como continuo pouco propenso a balanços e estou cada vez menos confiante no futuro, já não é fácil festejar aniversários. Mas isso não significa que não se preste tributo à amizade e a quem como o meu colega de blogue traz para o dia referenciais de memória importantes como a Sónia Braga, noutra constelação claro está. Um dia destes escrevo uma crónica sobre um poster da Jane Fonda que animava a porta do meu gabinete da Faculdade ou um elogio da fotografia da Catherine Deneuve que me faz companhia por detrás da minha cadeira da secretária no escritório. Símbolos.

Mas hoje é tempo para registar um artigo publicado pelo atual Ministro da Ciência Manuel Heitor no Journal on Research Policy & Evaluation em 2015 (ver link aqui). Trata-se de um contributo relevante (e é retribuidor ver intelectuais e cientistas portugueses a ocupar espaço no que se publica com notoriedade) para demonstrar como o projeto europeu se transformou em algo de disfuncional.

O tema do artigo de Heitor consiste em mostrar em que medida os processos de ajustamento e de austeridade a que as economias do sul foram votadas determinaram efeitos colaterais com efeito de desmembramento e de recuo de objetivos e metas da própria União Europeia. A abordagem do artigo coloca-nos perante evidências seguras de que a partir de 2010 as economias do sul viram rapidamente degradar-se os progressos anteriormente observados em matéria de ciência e tecnologia e de investigação e desenvolvimento. Essa degradação processou-se seja pela alocação de menos fundos públicos aos referidos objetivos de política europeia, seja através da mais grave saída de recursos humanos avançados para as economias do Norte. Ou seja, países como a Alemanha, além de terem organizado as coisas para tirar os seus cavalinhos da chuva da dívida das economias do sul, foram beneficiados com o afluxo de recursos humanos avançados formados nessas economias e que demandaram a Alemanha em busca de melhores oportunidades. Ou seja, uma espécie de reciclagem de euros de Fundo Social Europeu eventualmente gastos nas economias do sul e que regressam por essa via às economias do Norte.

A disfuncionalidade parece evidente. Não só os processos de ajustamento minaram a capacidade dos países do sul contribuírem mais ativamente para as metas comunitárias, comprometendo assim o objetivo global europeu, como drenaram sobretudo para a Alemanha e Reino Unido as nossas joias da coroa em termos de massa cinzenta.

Tudo isto porque objetivos como a política de investigação e desenvolvimento tecnológico a nível da União vale pouco quando comparada com o projeto macroeconómico do Diretório. É esse que marca a parada e tudo o resto a ele se submete. Até quando?

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