(Mais uma evidência
de que emerge na UE uma agenda política enviesada e não uma estratégia global
de superação dos seus problemas)
67 anos já representam alguma coisa em termos de passado, mas como continuo
pouco propenso a balanços e estou cada vez menos confiante no futuro, já não é
fácil festejar aniversários. Mas isso não significa que não se preste tributo à
amizade e a quem como o meu colega de blogue traz para o dia referenciais de
memória importantes como a Sónia Braga, noutra constelação claro está. Um dia destes
escrevo uma crónica sobre um poster da Jane Fonda que animava a porta do meu
gabinete da Faculdade ou um elogio da fotografia da Catherine Deneuve que me
faz companhia por detrás da minha cadeira da secretária no escritório. Símbolos.
Mas hoje é tempo para registar um artigo publicado pelo atual Ministro da
Ciência Manuel Heitor no Journal on Research
Policy & Evaluation em 2015 (ver link aqui). Trata-se de um contributo relevante (e é
retribuidor ver intelectuais e cientistas portugueses a ocupar espaço no que se
publica com notoriedade) para demonstrar como o projeto europeu se transformou
em algo de disfuncional.
O tema do artigo de Heitor consiste em mostrar em que medida os processos
de ajustamento e de austeridade a que as economias do sul foram votadas
determinaram efeitos colaterais com efeito de desmembramento e de recuo de objetivos
e metas da própria União Europeia. A abordagem do artigo coloca-nos perante
evidências seguras de que a partir de 2010 as economias do sul viram rapidamente
degradar-se os progressos anteriormente observados em matéria de ciência e
tecnologia e de investigação e desenvolvimento. Essa degradação processou-se
seja pela alocação de menos fundos públicos aos referidos objetivos de política
europeia, seja através da mais grave saída de recursos humanos avançados para
as economias do Norte. Ou seja, países como a Alemanha, além de terem organizado
as coisas para tirar os seus cavalinhos da chuva da dívida das economias do
sul, foram beneficiados com o afluxo de recursos humanos avançados formados nessas
economias e que demandaram a Alemanha em busca de melhores oportunidades. Ou
seja, uma espécie de reciclagem de euros de Fundo Social Europeu eventualmente
gastos nas economias do sul e que regressam por essa via às economias do Norte.
A disfuncionalidade parece evidente. Não só os processos de ajustamento minaram
a capacidade dos países do sul contribuírem mais ativamente para as metas comunitárias,
comprometendo assim o objetivo global europeu, como drenaram sobretudo para a
Alemanha e Reino Unido as nossas joias da coroa em termos de massa cinzenta.
Tudo isto porque objetivos como a política de investigação e
desenvolvimento tecnológico a nível da União vale pouco quando comparada com o
projeto macroeconómico do Diretório. É esse que marca a parada e tudo o resto a
ele se submete. Até quando?
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