(Não pode dizer-se
que a Diputación da Corunha tenha dinamizado suficientemente a divulgação da
sessão comemorativa dos 30 anos de integração europeia de Espanha e Portugal, mas é sempre um prazer discutir a Europa,
por pior que ela esteja, com amigos galegos)
O Sporting Clube Casino é uma daquelas instituições sociais recreativas que
os espanhóis cultivam, com uma presença marcadamente urbana e central (neste
caso em pleno distrito financeiro da Corunha, com o porto de mar no horizonte
visual), hoje poiso e entretenimento de uma terceira idade avançada que mantém
hábitos antigos entre amigos. O ambiente é muito “anos cinquenta-sessenta”,
numa torre que abrange cafetaria, auditório, sala de estar, restaurante,
atividades de ginásio e não sei que mais.
Foi nesse ambiente que a Diputación da Corunha através do seu centro de informação
europeia decidiu organizar a sessão comemorativa dos trinta anos de integração europeia
de Espanha e Portugal, na qual tive uma intervenção com os amigos Júlio
Sequeiros Tizón da Universidade da Corunha e Fernando Salgado, jornalista da Voz
da Galicia professor da Universidade de Santiago de Compostela.
Foi possível ao longo das intervenções e do debate que aconteceu depois
compreender que a perceção que hoje os portugueses e espanhóis têm da integração
europeia é substancialmente diferente, apesar das incidências gravosas em ambos
do processo de ajustamento, sabemos que ditados por razões diferentes, em Espanha
um problema do sistema financeiro e em Portugal com rotura de contas públicas e,
hoje melhor evidenciado, também de rotura do sistema financeiro.
Apesar da dimensão social mais ampla que a crise provocou em Espanha por
via dos desahucios (despejos de
habitação própria ou arrendada), que o meu amigo Júlio considera ser uma incompetência
flagrante do governo PP que com outra maestria teria atenuado o impacto social
de tal fenómeno, percebe-se através da discussão que o horizonte de esperança
dos espanhóis não tem comparação com o que se abre aos portugueses e aos seus
jovens. O tempo está a jogar a favor do governo de Rajoy e a situação macroeconómica
espanhola é incomparavelmente melhor do que a portuguesa (descontando o
problema crónico do desemprego espanhol sempre mais elevado do que o português)
após os dois processos de ajustamento. Tudo indica que os espanhóis terão concretizado
atempadamente o saneamento do seu sistema financeiro, ao passo que os portugueses
continuam a ser surpreendidos com imparidades e vigarices, tudo pelo preço de
uma saída limpa para eleitor votar e massajar o ego de alemães e europeus do Norte.
Também entre os três palestrantes houve nuances
diferenciadas quanto às perspetivas do projeto europeu, diria que eu e o
Fernando Salgado partilhamos a ideia de uma crise de procura global determinada
pela incapacidade europeia de colmatar por via da política fiscal as ineficácias
da política monetária do Banco Central Europeu, com o Júlio Sequeiros a forçar
mais a nota da crise de endividamento das economias do sul que na sua perspetiva
só o tempo permitirá colmatar quando a inflação repuser o valor dos ativos que
determinaram o endividamento. Em meu entender, essa inflação não virá enquanto
o problema de procura global não for resolvido e as instituições europeias
clarificarem se o movimento no projeto europeu é de recuo ou de avanço. Enquanto
Júlio Sequeiros parte da inevitabilidade da posição alemã que não arredará um milímetro
da sua posição, a minha interpretação é de que com essa rejeição alemã é tudo uma
questão de tempo para assistirmos ao enterro definitivo do projeto.
Fora da palestra, houve tempo para discutir a situação política espanhola e
o seu reflexo na Galiza. Estou cada vez mais convencido que o PSOE não vai ser
capaz de capitalizar a situação de impasse criado com as segundas eleições em
junho próximo. O eleitorado espanhol pensa maioritariamente que o PSOE deveria
ter aceite ir com exigências claras e percetíveis para uma negociação política
com o PP e com o CIUDADANOS e que ao colocar essa linha vermelha hipotecou de
vez qualquer hipótese de regresso ao poder. Na Galiza, o que é mais marcante é a
queda pronunciada, com riscos de desaparecimento político, do Bloco Nacionalista
Galego, queimando a uma velocidade vertiginosa inúmeras personalidades políticas
de valia regional. A ponto de o velho Professor Xosé Manuel Beires emergir no
seio do movimento ANOVA como a única alternativa política credível ao governo
PP. Do PSOE galego nem vê-lo também. É impressionante como o tempo acelerado da
política espanhola queima políticos a uma velocidade estonteante. Tenho em
falta outras conversas com outros amigos galegos para uma mais completa visão
desta aceleração.
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