terça-feira, 17 de maio de 2016

CAIRAM AS MÁSCARAS DOS POPULARES EUROPEUS!


(Autoridade para os pequenos e fracos e condescendência com os poderosos)


Não tenho dúvidas de espécie alguma quanto às dificuldades e até impasse que a evolução macroeconómica nacional (sobretudo quando comparada com a da UE e da Espanha em particular) está e irá colocar ao governo do PS com apoio parlamentar à esquerda. Por força das circunstâncias da negociação com a Comissão Europeia, das dificuldades estruturais da situação de partida e dos próprios equilíbrios do acordo à esquerda, a estratégia macroeconómica do governo de António Costa nem é carne, nem peixe. Ou seja, por um lado, não pode concretizar um estímulo à procura interna que se veja. Por outro, a situação internacional, sobretudo a que está criada nos mercados de refúgio de exportações nacionais também potencialmente atingidas pelo estímulo ao consumo interno (como Angola), não permite grandes veleidades em matéria de procura externa. Os dados do 1º trimestre de 2016, já aqui comentados e comparados com a evolução da zona Euro (periclitante, mas mesmo assim com diferencial de crescimento significativo face aos números portugueses), são de facto mau augúrio e vão exigir forte discussão no seio da maioria parlamentar e negociações duras com Bruxelas.

Embora o lamente, tais dificuldades não são para mim surpresa. Com um estímulo ao consumo a meio gás e a capacidade limitada de absorção de importações na economia europeia e outros mercados nossos clientes, tudo residiria no investimento. Ora, aqui, sem reestruturação de dívida, o investimento público está confinado à margem de manobra dos apoios dos Fundos Estruturais. A partir do momento em que o Portugal 2020 esbateu a dimensão infraestrutural, por razões óbvias, a tradicional almofada de emprego que aqueles fundos asseguravam, sobretudo na fase de concretização dos projetos apoiados, está também limitada. Além de que, dada a exacerbada aposta em infraestruturas que os anteriores períodos de programação consagraram, para uma economia pequena como a portuguesa não é fácil encontrar novas infraestruturas que resistam a análises custo-benefício mais rigorosas. Assim sendo, resta um discurso coerente de relançamento do investimento privado a que a maioria parlamentar continua resistente, com graves implicações no comportamento da formação bruta de capital fixo. Imagino como seja complexo suscitar esta discussão com o PCP e com o Bloco, ambos mais focados em denunciar os malefícios da pressão comunitária (o que é legítimo). Mas sem o desenvolvimento de uma frente de clarificação do impulso a dar ao investimento privado e enquanto não houver maior margem de manobra para o investimento público, será praticamente impossível esperar melhores números.

Ora é na dimensão comunitária que emerge cristalina como a água do Paiva que visitei no domingo passado a posição recentemente assumida em carta dirigida à CE pelo Partido Popular Europeu, muito na linha do “mata e esfola” das sanções por incumprimento dos objetivos do défice público. Compreende-se que, dadas as diferenças assinaláveis de desempenho macroeconómico das economias espanhola e portuguesa, o mesmo défice público não tenha o mesmo significado do ponto de vista da sua sustentabilidade futura. Mas ignorar que o défice de 2015 em Portugal ainda está umbilicalmente ligado à ideia da saída limpa que foi vendida com ampla anuência comunitária (neste caso a posição do FMI tem sido mais coerente) aos portugueses nas eleições de outubro de 2015 é pura falta de decoro e uma descarada intervenção política dos parlamentares europeus. Neste quadro de manifesta ingerência política, mais se lamenta o calamitoso estado de representatividade e de posicionamento de cócaras dos socialistas europeus. É também insustentável a posição dos populares europeus nacionais, abrindo caminho a uma infindável discussão sobre o arremedo do seu patriotismo. O nosso beato Paulo Rangel afirma candidamente que desconhecia a carta do presidente do Popular Europeu e não tira consequências de tal desconhecimento.

Ora com toda esta falta de vergonha dos populares europeus que confirmam preto no branco o diferente tratamento no passado de Espanha e Portugal e com a falta de espinha (já demasiado dobrada e por isso dificilmente endireitável) dos socialistas europeus), não é difícil imaginar que a maioria parlamentar vá projetar-se no inimigo externo. O que é paradoxalmente um passo acelerado para a não compreensão de que sem um horizonte claro para o investimento privado a economia portuguesa continuará a penar com crescimentos irrelevantes, do tipo dos do 1º trimestre. O contributo do turismo no segundo e terceiro trimestres certamente emergirá, mas são legítimas as dúvidas sobre a dimensão do efeito económico que ficará limitado à economia informal.


Embora estando fora e substituído por um Jorge Coelho que decididamente quer estar de bem com Deus e com o diabo, parece-me que será agora que Costa vai enfrentar a quadratura do círculo. Que os deuses o ajudem e se possível a sua rede de colaboradores mais próximos também.

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