(A jovem política democrata eleita numa disputadíssima
corrida eleitoral para o Congresso americano há cerca de um ano tem constituído
uma imagem de esperança sobretudo do ponto de vista da clarificação necessária
do Partido Democrata se quer ter veleidades de travar a reeleição de Trump. Assumindo-se como socialista democrata e não
apenas como liberal, Alexandria Ocasio-Cortez não tem dado tréguas aos republicanos
e aos media que são um prolongamento de Trump. A entrevista que o grande David
Remnick realiza á jovem congressista americana é uma peça política de rara
importância e atualidade que não podia escapar a este espaço de reflexão e crítica.)
Nas condições de polarização em que Trump está a mergulhar a América, estou
convencido que candidaturas equívocas ou inconsistentes como a que Joe Biden representa
colocam os Democratas na defensiva. A consequência mais provável é o mundo e
sobretudo os americanos mais desprotegidos levaram com mais um mandato de Trump
no lombo. É tempo de falar claro e sem rodeios, não ter medo de assumir as
questões que estão a fraturar a sociedade americana: a desestruturada política económica
da “América first” que está a infligir a uma grande parte da sociedade
americana largos prejuízos e perdas de bem-estar material; as desigualdades gritantes
que se instalaram na sociedade americana, agravadas com a descida de impostos
promovida por Trump, a qual depois do fogacho de efeitos no curto prazo está a
beneficiar os estratos de rendimento do topo da pirâmide social americana; o
desastre que representa a desmontagem do Obama care em matéria de saúde e de
proteção dos mais fracos; a necessidade de uma educação para todos na sociedade
americana.
A entrevista de Remnick a Alexandria Ocasio-Cortez (link aqui) é uma peça que honra a qualidade
da New Yorker, realizada a propósito da viagem da congressista e de alguns
colegas seus às zonas de fronteira em que os desmandos de Trump têm colocado
imigrantes barrados em condições desumanas de detenção.
A clareza de Ocasio-Cortez honra o rejuvenescimento político dos democratas:
“Não sabemos
como falar dos nossos próprios assuntos em termos convincentes, pelo que caímos
a todo o tempo nos esquemas Republicanos. E estamos demasiadas vezes na
defensiva, demasiadas vezes com medo dos nossos próprios valores e de lutar por
eles. E sinto que nos afastamos demasiado das nossas convicções. E uma das
coisas que quero fazer é manter uma linha de referência inequívoca, e redefinir
os nossos valores e relembrar às pessoas que o que precisamos agora de fazer bem
é regressar a casa como um partido. Não penso que devamos ter medo de ser o
partido de Franklin D. Roosevelt. Não devemos ter medo de ser o partido da
classe trabalhadora. E penso que em alguma medida começamos a ter medo de
assumir essas coisas.
(…) Não temos
de ter medo de assumir uma mensagem clara. Ou seja acreditamos na dignidade
humana de todas as pessoas. Acreditamos que os cuidados de saúde devem ser um direito.
Acreditamos que todas as pessoas devem auferir um salário decente e que permita
viver. Acreditamos que, à medida que a nossa economia evolua, é tempo de
expandir a educação para além dos 12 anos, e depois dos 16 anos e depois até ao
ensino superior ou ao ensino vocacional. E o que chamámos de agendas fortes ou
que os Republicanos chamam socialistas sempre foram chamadas socialistas.”
Os democratas precisam de clareza e firmeza de ideias. Se para além da clareza
elas forem preferidas por gente com empatia, então a fragmentada corrida dos
democratas à escolha de um candidato pode ser mais simples do que o que parece
ser possível hoje
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