terça-feira, 16 de julho de 2019

URSULA, À JUSTA



(Com o apoio de 383 eurodeputados, mais nove, do que o estritamente necessário, URSULA von der Leyen ultrapassou a barreira que alguns consideravam intransponível. A votação de hoje é um sinal dos tempos que se avizinham na União Europeia, positivos porque coloca uma mulher competente e aberta na presidência da Comissão Europeia, ameaçadores porque difíceis equilíbrios e compromissos irão marcar o futuro da União.)

Depois de ter compreendido que a ousadia negocial dos socialistas do sul e a ofensiva negocial com os liberais tinha borregado em minorias de bloqueio pouco recomendáveis e que serão um teste à nova Presidente, o equilíbrio entre a Alemanha de Merkel e a França de Macron revelava-se bem mais seguro do que qualquer outra aventura que poderia fraturar ainda mais os já apertados equilíbrios em que estamos. Afinal de contas, o equilíbrio do eixo Alemanha França é bem mais promissor para Portugal, atendendo ao relacionamento que vamos mantendo com aqueles dois países como nação e como origem de uma grande da população trabalhadora daqueles países.

Bem sei que teria sido bonito afastar finalmente o PPE da liderança da Comissão Europeia, com Timmermans ou mesmo Margrethe Vestagger a dirigir os destinos da Comissão Europeia. Os compromissos políticos ditaram uma outra solução e seguramente que Ursula von der Leyen será uma liderança mais consistente do que a proporcionada por Juncker. No entendimento destas coisas, Teresa de Sousa é de facto uma mulher sensata e atenta, pelo que a sua análise do papel que caberá à presidenta alemã é para mim convincente (link aqui). Para além disso, a sua prestação em Estrasburgo foi convincente, não se rebaixou a pedir apoios de circunstância, mostrou ser uma mulher competente, inteligente e determinada, só esperando que os mesmos equilíbrios que ditaram a sua eleição não a conduzam a um colégio de comissários (as) abaixo dos mínimos exigíveis.

Os compromissos climáticos de Ursula, bem como a sua proposta de um seguro de desemprego europeu para períodos de recessão severa e a sensibilidade que revelou para com o mundo do trabalho são sinais promissores de uma liderança da Comissão Europeia perfilada com alguns dos desafios contemporâneos que se colocam à União.

Vai ser interessante perceber o modo como o Parlamento Europeu, no qual 287 deputados votaram contra a sua eleição, interagirá com a Comissão, sobretudo a partir de uma composição que vai exigir das forças políticas nele representadas coragem e determinação para novas alianças.

De Ursula von der Leyen espero que a sua liderança recupere alguns dos valores europeístas que já fizeram parte do ideário de algumas das forças políticas integrantes do PPE.

Uma última intuição da qual não tenho nenhuma evidência ou sugestão respeita às possibilidades portuguesas em matéria de Comissário. E se a regra da paridade acabasse por fazer borregar as alegadas ambições de Pedro Marques? Será que os novos equilíbrios que conduziram Ursula von der Leyen à Presidência vão escrever por linhas direitas aquelas linhas tortas que colocaram o nosso ex-ministro do Planeamento na liderança da lista dos socialistas? Não deixaria de ser uma ironia dos tempos políticos que correm.

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