(Com o apoio de 383 eurodeputados, mais nove, do que o
estritamente necessário, URSULA von der Leyen ultrapassou a barreira que alguns
consideravam intransponível. A votação de hoje é um sinal dos tempos que se avizinham na União Europeia,
positivos porque coloca uma mulher competente e aberta na presidência da Comissão
Europeia, ameaçadores porque difíceis equilíbrios e compromissos irão marcar o
futuro da União.)
Depois de ter compreendido que a ousadia negocial dos socialistas do sul e
a ofensiva negocial com os liberais tinha borregado em minorias de bloqueio
pouco recomendáveis e que serão um teste à nova Presidente, o equilíbrio entre
a Alemanha de Merkel e a França de Macron revelava-se bem mais seguro do que
qualquer outra aventura que poderia fraturar ainda mais os já apertados equilíbrios
em que estamos. Afinal de contas, o equilíbrio do eixo Alemanha França é bem
mais promissor para Portugal, atendendo ao relacionamento que vamos mantendo com
aqueles dois países como nação e como origem de uma grande da população
trabalhadora daqueles países.
Bem sei que teria sido bonito afastar finalmente o PPE da liderança da Comissão
Europeia, com Timmermans ou mesmo Margrethe Vestagger a dirigir os destinos da
Comissão Europeia. Os compromissos políticos ditaram uma outra solução e seguramente
que Ursula von der Leyen será uma liderança mais consistente do que a proporcionada
por Juncker. No entendimento destas coisas, Teresa de Sousa é de facto uma mulher
sensata e atenta, pelo que a sua análise do papel que caberá à presidenta alemã
é para mim convincente (link aqui). Para além disso, a sua prestação em Estrasburgo foi
convincente, não se rebaixou a pedir apoios de circunstância, mostrou ser uma
mulher competente, inteligente e determinada, só esperando que os mesmos equilíbrios
que ditaram a sua eleição não a conduzam a um colégio de comissários (as) abaixo
dos mínimos exigíveis.
Os compromissos climáticos de Ursula, bem como a sua proposta de um seguro
de desemprego europeu para períodos de recessão severa e a sensibilidade que
revelou para com o mundo do trabalho são sinais promissores de uma liderança da
Comissão Europeia perfilada com alguns dos desafios contemporâneos que se colocam
à União.
Vai ser interessante perceber o modo como o Parlamento Europeu, no qual 287
deputados votaram contra a sua eleição, interagirá com a Comissão, sobretudo a
partir de uma composição que vai exigir das forças políticas nele representadas
coragem e determinação para novas alianças.
De Ursula von der Leyen espero que a sua liderança recupere alguns dos valores
europeístas que já fizeram parte do ideário de algumas das forças políticas integrantes
do PPE.
Uma última intuição da qual não tenho nenhuma evidência ou sugestão respeita
às possibilidades portuguesas em matéria de Comissário. E se a regra da
paridade acabasse por fazer borregar as alegadas ambições de Pedro Marques? Será
que os novos equilíbrios que conduziram Ursula von der Leyen à Presidência vão
escrever por linhas direitas aquelas linhas tortas que colocaram o nosso ex-ministro
do Planeamento na liderança da lista dos socialistas? Não deixaria de ser uma
ironia dos tempos políticos que correm.
Sem comentários:
Enviar um comentário