(E este é apenas o primeiro grupo que foi a debate!)
(As eleições americanas representarão um teste crucial à viabilidade de
derrota do populismo plutocrático instalado. O modo como os Democratas estão a
organizar a sua campanha interna que os conduzirá à nomeação do adversário de
Trump só aparentemente pode ser considerado um elogio à diversidade. Mandam as boas regras que as primárias devam
constituir uma alavanca para a campanha final. Ora não me parece que isso
esteja a acontecer.)
Por estes dias, as hostes dos Democratas americanos estão em profunda
agitação com a realização dos debates televisivos entre a caterva de candidatos
potenciais. O número de candidatos é gigantesco, com nomes que, para alguém que
se considera minimamente informado sobre a política americana, não querem dizer
rigorosamente nada e de cujos nomes e carreiras políticas não é fácil encontrar
rasto nos jornais de referência como o New
York Times e o Washington Post ou
de revistas como a The Atlantic ou a New Yorker. Há quem interprete esta
caterva de candidatos como um hino à diversidade e riqueza de perspetivas do
espectro político Democrata. Não sou tão otimista como esses observadores.
Por mais disléxico, plutocrata ou racista que se apresente, o candidato
Trump tem a enorme vantagem de estar no poder e já não falo na sua gigantesca e
despudorada máquina de informação que não hesita em mentir, viciar informação
ou estigmatizar para alcançar os seus fins. Assim sendo, as primárias entre os
Democratas deveriam assegurar um equilíbrio mais razoável entre a diversidade
de perspetivas e a necessidade de focar o eleitorado num conjunto de nomes
referenciados e com ideias tão claras e mobilizadoras quanto o possível. Pela
primeira série de debates ontem realizada, percebe-se que vamos ter cá um
granel de respeito. Tudo leva a crer que o segundo debate irá alinhar pelo
mesmo diapasão, ainda que possamos dizer que a presença no primeiro de Bernie
Sanders e de Elizabeth Warren lhe concede alguma notoriedade, suspeitando que o
segundo irá contrapor sobretudo Joe Biden e Kamala Harris.
De todo o granel em efervescência ressalta todavia uma regularidade que vai
consistir na luta titânica entre os candidatos mais ousados e à esquerda
(seguramente Bernie Sanders e Elizabeth Warren e veremos se Kamala Harris
alinhará por esta orientação) e a linha de maior moderação. O debate vai ser
duro e justifica-se. Já nas últimas primárias que deram a vitória a Hillary
face a Bernie, a contradição entre a ala mais socialista e a mais moderada foi
gritante. Porém, a evolução da economia e da sociedade americana com Trump
tendeu a agudizar esse confronto. Isto significa que as primárias entre os
Democratas não vão servir para catapultar um candidato para o confronto com
Trump, mas antes para clarificar a posição ideológica do partido. Este facto
não parece contornável, tamanha é a necessidade de clarificação de posições em
domínios como a saúde, a luta contra a pobreza e a falta de elevador social da
sociedade americana, a política fiscal e a perspetiva sobre a desigualdade e os
fatores que a têm agravado. Mas o facto de ser incontornável não significa que
não beneficie Trump e, em meu entender, beneficia muito. Só depois das
primárias concluídas e com o candidato escolhido vai ser possível unir de novo
o eleitorado potencial dos Democratas. Não é necessário ser politólogo para
compreender que quanto mais agudizadas forem as primárias mais difícil será
reunir as hostes num objetivo comum, derrotar Trump. E creio que vão ser bem
agudas e agressivas. Basta recordar que Hillary não conseguiu atrair todos os
simpatizantes de Bernie Sanders, embora me pareça que desta vez possa ser mais
fácil tapar narizes, fechar olhos e ignorar consciências para votar em quem os
Democratas elejam para derrotar Trump. Como sabemos não basta “derrotar” Trump
em votos, há que o conseguir em colégio eleitoral e o modelo americano protege
os menos audazes politicamente.
Para já o debate Democrata parece polarizado entre a ala mais socialista e a
que não ousa pronunciar sequer a palavra. Tenho sérias dúvidas de que entre
estas duas orientações possa haver alguma aproximação e com isso contribuir
para que as primárias sejam já disputadas em rota de afrontamento a Trump. Enquanto
permanecer em palco esta caterva de candidatos será difícil promover essa aproximação.
Quando esse número for drasticamente reduzido, veremos. O risco é o afrontamento
com Trump ser concretizado com um subaproveitamento do potencial eleitoral pela
razão de parte do eleitorado Democrata, mais à esquerda ou mais moderado, não se
rever na oferta.
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