(Em post de 22 de julho pressentia o que poderia
acontecer em matéria de combinação, altamente combustível, entre incêndios e ministro
Cabrita. Três ou quatro dias bastaram
para mostrar como a minha intuição estava certa.)
Em post de 22 de julho escrevia o seguinte:
“Admitindo que
ocorrências como as que se vivem ainda em Mação, Vila de Rei e em parte em
Proença-a-Nova poderão multiplicar-se até ao outono, isto admitindo que o
outono será mesmo outono no tempo certo, o que nos tempos que correm é
duvidoso, lá teremos o jogo do gato e do rato entre jornalistas e membros do
governo, esperando que o convencimento do ministro Cabrita seja desta vez
contido e que não prometa o impossível porque a comunicação social cobrará
caro. Politicamente, o PS pode estar a caminhar para um resultado expressivo,
mas a “burning season” representará
sempre um cutelo potencial sobre o pescoço da governação”.
Bastaram apenas alguns dias para demonstrar que a minha profecia estava certa.
A história conta-se de forma rápida. Não se sabe bem se acossado pela violência
do fogo que lhe comia rapidamente a mancha verde que lhe restava dos últimos
incêndios de anos anteriores ou se atingido pelo vírus da comunicação a quente,
o autarca de Mação resolveu vir a terreno clamar pela falta de meios. O autarca
Vasco Estrela pertence às hostes do PSD. Também não sei se por esse facto ou
por factos anteriores que o público comum desconhece, António Costa e o ministro
Cabrita vieram a terreiro responder e não foram meigos. É conhecida a influência
de pensamento que o ministro Cabrita tem no 1º Ministro que, em meu entender,
algum dia acabará mal. Acho que nunca irei entender porque é que um primeiro-ministro
tão experimentado mete sempre o pé na argola nestas situações, revelando traços
do seu comportamento político que valeria a pena mitigar e que se prestam
aquela velha ideia de que governa bem quando as coisas correm bem e se revela
negativamente quando as coisas correm mal.
Por sua vez, o ministro Cabrita pertence aquele grupo de políticos e
governantes que, a partir do momento em que traça um modelo ou um quadro de política,
se recusa a perceber que a relação entre a decisão política tomada com base naquele
modelo ou quadro e a transformação da realidade conforme o desejável nunca é
determinada e que vários imprevistos ou ineficiências podem acontecer. Assistimos
a uma sequência prodigiosa desses ruídos: primeiro, o autarca de Mação não
teria aplicado o plano municipal de emergência de última geração porque fora
aprovado já o fogo tinha começado; segundo, um dia depois foi conhecido que o
governo deve aos bombeiros largos milhões correspondentes a subsídio de combustíveis;
terceiro, uns dias depois, vem a lume a história dos gorros combustíveis, uma
trapalhada a propósito da qual ainda não foi possível saber com clareza se tinham
apenas uma função de sensibilização da população ou se foi uma argolada incomensurável,
apimentada pelo facto de resultar de um fornecimento em concurso ganho por uma
empresa do marido de uma autarca do PS do vale do Ave (Junta de Freguesia.
Ou seja, uma vez mais cautela e caldos de galinha recomendavam-se ao ministro
Cabrita, uma vez mais convencido que entre a decisão política e os efeitos
concretos dessa decisão existe um vácuo bacteriologicamente puro e sem imperfeições
de qualquer espécie.
Poderíamos testar este modelo interpretativo à desconchavada ofensiva política
em torno da descentralização, na qual se verifica também a intuição do ministro
Cabrita. Depois deste tempo todo, continuo sem perceber (e julgo que não serei
apenas eu) o racional e os contornos dessa descentralização
E não será difícil imaginar que origem terão os rumores de que há no
governo quem pense no que eu designo de “CIMização” da organização territorial do
planeamento em Portugal, com todo o poder às Comunidades Intermunicipais (CIM’s).
Domínios diferentes mas um traço comum, o pensamento do ministro Cabrita. António
Costa que se cuide!
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