(O Festival Internacional de Música da Póvoa de Varzim é um
hino à descentralização. E não é seguramente por muitas vezes que poderemos ouvir o desbordante Arcadi
Volodos por cinco euros.)
Eu sei que a Póvoa de Varzim se integra numa área metropolitana, de configuração
não canónica é certo, mas mesmo assim metropolitana e situada na área de influência
do chamado Grande Porto. Apesar disso, um município que consegue manter e
consolidar dois festivais tão marcantes e resilientes como o são o Correntes D’Escritas
e o Festival Internacional de Música merece que lhe tiremos o chapéu.
Ontem, num sábado diferente, com a movimentação a partir de Seixas-Caminha
em direção à Póvoa de Varzim para uma refeição ligeira perto do bem
infraestruturado passeio marítimo e depois rumar ao Cine-Teatro Garrett para
ouvir o portento Arcadi Volodos, senti-me cidadão de uma região e de um país mais
diverso, não afunilado e limitado ao contraponto entre Lisboa e o Porto.
Com um público irrepreensível de atenção e comunhão com Volodos que valeu
quatro encores, o programa prometia.
A primeira parte, focada na sensibilidade, foi ocupada com Schubert. A
Sonata para piano em Mi maior D.157, que não é muito tocada pelo menos em
comparação com as últimas sonatas compostas por Schubert e que conhecia de uma
gravação do próprio Volodos, preparou-nos o espírito para os seis momentos musicais
que conhecia de uma interpretação da japonesa Mitsuko Ushida.
A segunda parte explorou a inesgotável virtuosidade técnica de Volodos,
primeiro com seis peças de Rachmaninoff e outras seis de Scriabin. O público
rendeu-se e talvez o caráter intimista da sala, apesar dos fortes desníveis existentes
entre a plateia e o balcão, tenha proporcionado a empatia que ou se estabelece
ou não. Desta vez aconteceu e deuses continuem a presentear-nos com estes magníficos
momentos pela bagatela de 5 euros no balcão.
Longa vida aos organizadores do FIPV.
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