domingo, 28 de julho de 2019

VOLODOS NA PÓVOA DE VARZIM



(O Festival Internacional de Música da Póvoa de Varzim é um hino à descentralização. E não é seguramente por muitas vezes que poderemos ouvir o desbordante Arcadi Volodos por cinco euros.)

Eu sei que a Póvoa de Varzim se integra numa área metropolitana, de configuração não canónica é certo, mas mesmo assim metropolitana e situada na área de influência do chamado Grande Porto. Apesar disso, um município que consegue manter e consolidar dois festivais tão marcantes e resilientes como o são o Correntes D’Escritas e o Festival Internacional de Música merece que lhe tiremos o chapéu.

Ontem, num sábado diferente, com a movimentação a partir de Seixas-Caminha em direção à Póvoa de Varzim para uma refeição ligeira perto do bem infraestruturado passeio marítimo e depois rumar ao Cine-Teatro Garrett para ouvir o portento Arcadi Volodos, senti-me cidadão de uma região e de um país mais diverso, não afunilado e limitado ao contraponto entre Lisboa e o Porto.

Com um público irrepreensível de atenção e comunhão com Volodos que valeu quatro encores, o programa prometia.

A primeira parte, focada na sensibilidade, foi ocupada com Schubert. A Sonata para piano em Mi maior D.157, que não é muito tocada pelo menos em comparação com as últimas sonatas compostas por Schubert e que conhecia de uma gravação do próprio Volodos, preparou-nos o espírito para os seis momentos musicais que conhecia de uma interpretação da japonesa Mitsuko Ushida.

A segunda parte explorou a inesgotável virtuosidade técnica de Volodos, primeiro com seis peças de Rachmaninoff e outras seis de Scriabin. O público rendeu-se e talvez o caráter intimista da sala, apesar dos fortes desníveis existentes entre a plateia e o balcão, tenha proporcionado a empatia que ou se estabelece ou não. Desta vez aconteceu e deuses continuem a presentear-nos com estes magníficos momentos pela bagatela de 5 euros no balcão.

Longa vida aos organizadores do FIPV.

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