segunda-feira, 8 de julho de 2019

FÁTIMA BONIFÁCIO, A DESTILADORA DE ÓDIO



(Não é que a escritora, certamente de mal com a vida, não tenha o direito de discutir e pronunciar-se sobre os temas mais impopulares ou delicados que entender. O problema não está aí. O verdadeiro está no ódio que destila relativamente a algumas causas da esquerda e sobretudo na cedência a generalizações abusivas que não são dignas de uma investigadora associada ao nome do Instituto de Ciências Sociais. E já agora, por questões de clareza, não tenho qualquer problema de que o Público tenha publicado o artigo da historiadora. Tal como Ferreira Fernandes o escreveu no Diário de Notícias, o contributo do jornal para a pluralidade não pode ser esquecido.)

Não está em causa a seguramente valiosa obra de investigação da historiadora associada ao ICS e com passagem pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa. Mas é inequívoco que MFB faz parte de um coro de cronistas do Observador que, independentemente das suas ideias, é sistematicamente traída pelo seu ressabiamento em relação à esquerda, com um sentimento vingativo e de revisão da história recente portuguesa. Não faço ideia das razões que podem explicar estes traços profundos do pronunciamento público da historiadora. Imagino que não tenha sido fácil a sua passagem pela FCSH da Universidade Nova, à Avenida de Berna em Lisboa, que as más-línguas costumam associar a um templo de bloquistas. Não imagino também que sequelas tenha deixado em MFB a relação marital com um dos grandes intelectuais portugueses do 25 de Abril, o Engenheiro João Martins Pereira, um dos grandes expoentes da esquerda desse tempo, com páginas decisivas para compreendermos as transformações imediatas do pós-74.

Mas escrever com o ódio e o ressabiamento à flor da pele não é de certeza uma tarefa fácil, sobretudo pela incompatibilidade manifesta com o rigor científico e de pensamento que se pede a uma investigadora.

MFB tinha todo o direito de se pronunciar sobre os controversos temas das quotas étnico-raciais, o próprio racismo, os difíceis temas da integração cultural e da multiculturalidade em sociedades tolerantes como a nossa e até sobre os eventuais fenómenos de xenofobia existentes entre outras culturas que não a ocidental. Mas, em meu entender, discutir esses assuntos exige rigor, distância e sobretudo não o fazer num estado de ódio e ressabiamento como aquele que atravessa neste momento o posicionamento da historiadora. É perturbador como uma investigadora cede às mais incríveis generalizações abusivas para defender as suas ideias, homenageando o senso comum que vomita generalizações abusivas dessa natureza e com base nas mesmas constrói teorias conspirativas e catastróficas sobre o nosso futuro face aos outros. Acho que estamos perante uma morte desesperada de quem alguma vez terá sido investigadora rigorosa, abraçando argumentos e teses que resultam do mais agudo impressionismo generalizador, a ponto do texto poder ser considerado um pronunciamento racista e xenófobo. É um trágico sinal dos tempos termos uma investigadora rendida ao canto mais imperfeito da sereia populista, em meu entender apenas por destilar ódio e ressabiamento pelas causas de uma certa esquerda, fazendo jus ao estatuto de investigadora traumatizada sabe-se lá por que ventos saídos desse quadrante político.

É claro que o que nos conforta é que por cada destilar de ódio e ressabiamento emerge sempre um outro tipo de contributo, repondo as condições de uma sociedade tolerante que somos, como é por exemplo o artigo de Ferreira Fernandes no Diário de Notícias ou o de Marta Mucznik no Observador (links aqui e aqui)

À MFB recomenda-se tratamento psicanalítico sério, capaz de investigar e tratar as razões de ódio e ressabiamento tão profundos.

Sem comentários:

Enviar um comentário