(Tempo para analisar o comportamento da economia
portuguesa no tempo longo, ou melhor no tempo longo passível de ser
compreendido com estatísticas fiáveis. Trago para hoje dois gráficos construídos por mim
a partir do arsenal precioso das paridades de poder de compra e um outro
mobilizando a informação das contas nacionais.)
Os economistas que trabalham com a perspetiva do tempo longo têm hoje à sua
disposição, melhor dizendo à distância de um clique, informação fiável. A fonte
a que hoje recorro para construir três gráficos ilustrativos do comportamento
estrutural da economia portuguesa são as PENN tables, hoje geridas na União
Europeia através do laborioso trabalho da Universidade de Groningen na Holanda.
Os dois primeiros gráficos utilizam o valioso material das Paridades de Poder
de Compra (PPC). As PPC apresentam um interesse para a análise económica estrutural
que transcende em muito a construção de equivalências entre moedas que, ao
contrário das taxas de câmbio que refletem sobretudo os movimentos que envolvem
bens transacionáveis, o fazem recorrendo a cabazes de bens e serviços que
refletem a diversidade do PIB. Quando medimos as grandezas macroeconómicas à
paridade de poder de compra estamos a proceder como se por magia eliminássemos
as diferenças de preços relativos que existem entre as economias em função do
seu desigual nível de desenvolvimento económico. O exemplo clássico para
compreender essa realidade é a perceção que devemos ter que a relação entre o
preço de um café (um não transacionável) e uma camisa de modelo vulgar (um bem transacionável)
não é a mesma em Portugal e na Suécia. Uma camisa em Portugal valerá muito mais
cafés do que na Suécia, simplesmente porque o preço do serviço na Suécia é bem
mais elevado e a o preço da camisa como transacionável que é tenderá a alinhar
no mercado internacional.
Os dois gráficos (o que abre o post e o que é apresentado acima) descrevem
para um período bastante longo, de 1954 a 2017, o peso da formação bruta de
capital fixo e das exportações no PIB, fazendo-o não em termos nominais, ou
seja, aos preços da economia portuguesa, mas às PPC, ou seja admitindo que os
preços relativos se nivelavam.
O que é particularmente significativo anotar é o comportamento divergente
recente do peso da FBCF e das exportações no PIB. A primeira tem estado agónica
e apresentando uma tendência decrescente e a segunda evidenciando um
comportamento em alta com alguma regularidade apontando o peso do mercado
externo na afetação de recursos. O confronto entre os dois gráficos mostra que
o comportamento das exportações teria sido bem mais virtuoso se tivesse sido nos
tempos mais recentes acompanhado de um maior esforço de acumulação de capital fixo.
Aliás, sem a recuperação de pesos mais elevados da FBCF no PIB as margens de
progresso da competitividade das exportações tenderão a ser limitadas e deverem-se sobretudo a alguma pressão
sobre os salários.
O gráfico acima abandona o universo das PPC e regressa às variáveis
nominais das contas nacionais. Trata-se de um indicador muito referenciado no
comportamento recente das economias maduras e reflete a desigual relação de
forças que se trava entre os mundos do capital e do trabalho, a partir do
momento em que a concentração do primeiro tem vindo a intensificar-se. O gráfico
fala por si, sobretudo com a inversão do indicador após o ano de 2015. Mais um
trunfo para a geringonça.
Finalmente, aproveitando os resultados do Eurostat para as PPC em 2014, com
novos cabazes de bens e serviços construídos nesse ano e retomando a ideia do
meu post anterior sobre a relevância do investimento em maquinaria e equipamento,
elaborei um quadro comparativo para Portugal e para a Alemanha, comparando o
peso da maquinaria e equipamento no PIB aos preços de cada economia e às PPC.
Peso (%) no
PIB
|
Portugal
|
Alemanha
|
Maquinaria
e equipamento aos preços nacionais
|
3,95
|
5,40
|
Idem às
PPC
|
2,76
|
5,50
|
Formação
bruta de capital fixo aos preços nacionais
|
15,0
|
20,0
|
Idem às
PPC
|
17,2
|
19,2
|
Moral da história: Portugal
deveria em termos de maquinaria e equipamento estar a investir mais do que a
Alemanha para poder convergir, o mesmo se diga em relação à FBCF como um todo,
cuja relação com o crescimento económico é menos robusta do que a observada com
a maquinaria e equipamento.
E caros amigos da geringonça, entendamo-nos: isto não é uma questão de
investimento público, que é uma outra conversa. O meu ponto é a necessidade de
criar condições para que o investimento privado atinja outros limiares de
alocação de recursos. Compreendido?
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