A reportagem especial da SIC sobre o BPN, resultante de uma investigação liderada pelo jornalista Pedro Coelho, foi apresentada em dia mal escolhido (23 de dezembro, um domingo pré-natalício) e acabou por ter ecos menos significativos do que mereceria. Decidi voltar a ela e deixar neste espaço uma síntese do objetivo registo de interesses privados que aí foram revelados e se encontram em manifesta situação de conflitualidade face ao óbvio interesse público que se lhes contrapõe.
As grandes manchetes em rodapé explicitavam muito do que está em causa: que o buraco do BPN pode atingir os 7 mil milhões de euros, que aquando da criação das 3 empresas-veículo para efeitos da venda ao BIC (40 milhões de euros) ficaram no Estado os créditos difíceis e potencialmente tóxicos (mais de 5 mil milhões de euros) e que os prejuízos com a maior fraude da história e a consequente nacionalização do banco serão quase integralmente pagos pelos contribuintes. E recordavam, ainda, alguns factos: que foram estimadas em 750 milhões de euros os prejuízos reais à data da nacionalização (novembro de 2008) refletidos em operações fora de balanço, que tal valor logo viria a ascender a 1800 milhões em janeiro de 2009 e que as perdas assumidas ao tempo da separação de ativos se elevaram a 2800 milhões de euros (2200 de imparidades e 600 de liquidez injetada no banco).
A peça apontava ainda os nomes e caras de alguns dos principais devedores (incluindo vários conhecidos notáveis da nossa praça) e os respetivos montantes em dívida (ver abaixo), assim como duas outras de muitas situações menos transparentes (o caso de 8 “offshores” com dívidas superiores a 218 milhões de euros ou o dos negócios de Fernando Fantasia, “o empresário que terá negociado o terreno onde o Presidente da República construiu a casa de férias”, com dívidas mais ou menos diretas num valor próximo de 300 milhões de euros).
Verifica-se ainda que anda em torno dos 4 mil milhões de euros o total de créditos que foram alojados na mais avantajada daquelas 3 sociedades-veículo criadas em setembro de 2010 (Parvalorem), mais de metade dos quais já terão sido dados por definitivamente perdidos (e estando apenas 3% recuperados) e constituindo aquele um valor tão mais curioso quanto se aproxima a passos largos o cumprimento pelo Governo de um compromisso que assumiu perante a Troika no sentido de concretizar um corte no “Estado social” (saúde, educação e segurança social) de… 4 mil milhões de euros, precisamente. E ainda dizem que não há coincidências!
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